Não é impossível um escritor tornar-se político - já aconteceu; mais difícil é um bom escritor tornar-se um bom político (veja-se o caso de Mario Vargas Llosa). Pode ser mais comum um mau escritor se transformar num bom político (pense-se em Vaclav Havel). E, de qualquer modo, na maior parte das vezes as aspirações políticas são mínimas ou desprovidas de bom senso. A passagem de José Saramago pela política activa demonstra o caso de forma exemplar.
O problema tem que ver com a natureza das duas funções. O político é, quase sempre, um ser desprovido de imaginação que compensa esta falta com uma tendência para a mentira, a falsidade ou a grandiloquência, muitas vezes ocorrendo separadamente e, nos casos mais sintomáticos, juntas. Pior ainda, o político confunde mentira com imaginação e inclui-se muitas vezes nos seus delírios mitómanos, achando que o poder que lhe foi delegado lhe confere carta branca para entrar na História. Todo o político sonha com a eternidade. Quase todos apenas conseguem notoriedade ou, nos piores casos, enriquecimento ilícito, durante algum tempo.
O escritor é alguém que usa a criatividade para produzir novas imagens, nunca mente. Está suficientemente protegido para poder praticar o seu ofício sem sobressaltos. Sabe que quem lê não espera mais do que outra realidade, diferente daquela onde vive. Diferente de uma realidade onde a mentira e a hipocrisia são indissociáveis da socialização. Neste mundo, o político move-se como uma enguia entre as mãos.
Amos Oz, escritor israelita, no livro do Público que saiu há uns tempos, "Contra o Fanatismo", traça uma linha entre escritor e político, definindo um modo de intervenção que tanto se aproxima do engagement clássico como se afasta - Oz nunca toma partido por nenhum dos lados, israelita ou palestiniano. O mais difícil de conseguir, a neutralidade absoluta; principalmente porque Oz é israelita e de esquerda - facilmente podia descambar para um dos lados. Os três ensaios do livro são extraordinários, e mais exemplares se tornam quando chegamos ao fim a achar que nenhuma das sugestões avançadas por Oz serão sequer pensadas pelos líderes políticos a quem ele apela. Oz, como outros intelectuais israelitas e palestinianos, labora no fracasso. Porque pertence a uma espécie diferente dos líderes políticos - os tais homens sem imaginação, reduzidos à insignificância de poderem mandar no presente. E de saberem que nunca irão transformar o futuro.
O problema tem que ver com a natureza das duas funções. O político é, quase sempre, um ser desprovido de imaginação que compensa esta falta com uma tendência para a mentira, a falsidade ou a grandiloquência, muitas vezes ocorrendo separadamente e, nos casos mais sintomáticos, juntas. Pior ainda, o político confunde mentira com imaginação e inclui-se muitas vezes nos seus delírios mitómanos, achando que o poder que lhe foi delegado lhe confere carta branca para entrar na História. Todo o político sonha com a eternidade. Quase todos apenas conseguem notoriedade ou, nos piores casos, enriquecimento ilícito, durante algum tempo.
O escritor é alguém que usa a criatividade para produzir novas imagens, nunca mente. Está suficientemente protegido para poder praticar o seu ofício sem sobressaltos. Sabe que quem lê não espera mais do que outra realidade, diferente daquela onde vive. Diferente de uma realidade onde a mentira e a hipocrisia são indissociáveis da socialização. Neste mundo, o político move-se como uma enguia entre as mãos.
Amos Oz, escritor israelita, no livro do Público que saiu há uns tempos, "Contra o Fanatismo", traça uma linha entre escritor e político, definindo um modo de intervenção que tanto se aproxima do engagement clássico como se afasta - Oz nunca toma partido por nenhum dos lados, israelita ou palestiniano. O mais difícil de conseguir, a neutralidade absoluta; principalmente porque Oz é israelita e de esquerda - facilmente podia descambar para um dos lados. Os três ensaios do livro são extraordinários, e mais exemplares se tornam quando chegamos ao fim a achar que nenhuma das sugestões avançadas por Oz serão sequer pensadas pelos líderes políticos a quem ele apela. Oz, como outros intelectuais israelitas e palestinianos, labora no fracasso. Porque pertence a uma espécie diferente dos líderes políticos - os tais homens sem imaginação, reduzidos à insignificância de poderem mandar no presente. E de saberem que nunca irão transformar o futuro.
[Sérgio Lavos]
Sem comentários:
Enviar um comentário