18/04/13

Um reconhecimento

É uma ideia recorrente: se um dia pudesse encontrar-me com quem fui aos dezassete anos, reconhecer-me-ia? O mesmo rosto, menos envelhecido, sem óculos ainda. Seria mais alegre, mais aberto à vida. Não teria a amargura que por vezes não consigo disfarçar. Não sei se as sombras já rondavam, se apenas começaram a aproximar-se depois. As dúvidas e as preocupações eram outras. Mas não as recordo. Não sei quem era aos dezassete anos. Se agora me reencontrasse, não teria muito interesse em estabelecer uma conversa que ultrapassasse as banalidades que se trocam com estranhos. Há quem diga que se ganha, com o correr dos anos; mas não sei. Talvez duvide. O que se perde não é substituído pelo que se conquista ou se adquire. Não se trata de decadência, nem de medo. Mas de um reconhecimento, vagamente melancólico. O pior é que não tenho a certeza de quem era nessa idade. Sei que aconteceu, mas não consigo aceder ao que fui, como se o que fui tivesse guardado num ficheiro protegido do disco rígido. Não vale a pena repassar a ideia. Mas ela dança no meu espírito, como um demónio inquieto. Terei de viver com isso.

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