Aquela expressão "ler um policial para descansar a cabeça" nunca me foi estranha. Sempre descansei a cabeça com policiais. E também com filmes para idiotas nas tardes de fins-de-semana. Mas descanso mais com uma boa sesta. É verdade. Então porquê pegar num livro - um policial ou outra coisa qualquer - em vez de dormir um pouco? Aquela coisa de que falam: ausentar-se, entrar noutro mundo. Mas os livros que se lêem para "descansar a cabeça" são sempre mais realistas, mais próximos do nosso mundo. Ou não? Quanto mais próxima está de nós a natureza do livro mais facilmente nos enredamos nele, ou será que perdemo-nos mais facilmente quando o autor consegue escrever sobre o que não conhecemos?
Um exemplo: o primeiro livro do ano foi O Hipnotista, um policial na onda dos autores nórdicos popularizados pelo fenómeno Stieg Larsson (não li e agora não vou ler, porque entretanto vi os filmes suecos, e são bastante decentes). O autor é um par, um casal, e assina com o nome Lars Kepler. Lê-se bem? O que é isso? Lê-se rápido, claro, porque um artesão competente desta livralhada comercial tem de conseguir imprimir um bom ritmo à leitura. E este cumpre na perfeição. O discurso indirecto livre, na 3.ª pessoa, o presente contínuo ; e um breve interlúdio na 1.ª pessoa em modo de analepse para desvendar as brumas do passado de uma das personagens. Tudo muito escorreito, claro, simples, frases curtas, pessoas e não estereótipos, o que me parece ser uma qualidade não muito comum nestes objectos literários. A sensação de familiar previsibilidade do imprevisível. E o credo do thriller para as massas da actualidade: terá de haver várias reviravoltas até à revelação final.
Lê-se bem, lê-se bem. Não é surpreendente. Mas é invulgar, sobretudo porque se passa em ambientes que nos são estranhos: o gelo e a neve, a noite eterna, os psicopatas frios do Norte. E um pequeno gancho resultado de um interesse pessoal: a hipnose como método terapêutico. Valeria a pena por isso. A emissão prossegue dentro de momentos.
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