para Nuno Franco
Era muito de noite, os amigos ficaram para trás
presos ao álcool e ao paleio fácil da procura. Seguimos as
ruas desertas da cidade, apenas parámos onde a água
corria na ribeira, sob o que restava de uma cortina de
buganvília.
Na varanda do quarto do hotel
os sentidos sombrios - a cama
entreaberta esperava quem nunca havia de chegar, nela ficou a
flor estridente da chama da floresta (tem a cor de cólera de
deus na nossa fronte
tem a cor dos nossos lábios), nem eu sei porque
me deu para falar da estrela da aliança,
para depois nos rirmos e comermos maçãs madrugada fora sob
a lua negra do outono atlântico
e mais forte e mais doce do que tudo
rodeia de espinhos o círculo arroxeado à volta da ferida, terreiro
alagadiço os dedos afligem
e depois
boa-noite.
João Miguel Fernandes Jorge, em Lagoeiros, ed. Relógio d'Água.
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