Natalie Portman é uma das actrizes bonitas que sabem representar. O filme da Darren Aronofsky, feito para ela, é prova definitiva disto. Um museu de atrocidades construído à volta da beleza do ballet clássico, ou o Lago dos Cisnes revisitado e reenquadrado na violência da história que conta. O sadismo de Michael Haneke passa pelo filme, mas o filme não está interessado em reflectir sobre os mecanismos da violência. Antes centra-se na relação entre mãe e filha - pensando bem, como acontece n'A Pianista, do realizador austríaco - e elabora um estudo sobre a frigidez feminina como repressora da criação e da liberdade artística. Mila Kunis, também belíssima, representa o oposto dialéctico desta repressão, é a bailarina mais limitada do que Portman que consegue superar a desvantagem através da expressão da sua sexualidade. O filme é masculino, claro. Há um ou outro cliché, algum deslumbramento perante o "mistério da alma feminina". Poderia ter tudo redundado num fracasso. Mas uma direcção de actores consciente e eficaz e um domínio da técnica cinematográfica, aliados a uma cinematografia que explora e expande a violência do argumento, fazem deste provavelmente o melhor filme de Aronofsky.
Cisne Negro, de Darren Aronofsky, com Natalie Portman, Mila Kunis, Vicent Cassel, Barbara Hershey e Winona Ryder.
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