O Pedro Mexia, em duas entrevistas recentes (no Ipsilon e na revista Alice), admite a falsidade da sua escrita confessional, intimista. Ou a meia verdade, que é menos do que uma mentira inteira. É claro que sabemos que um entrevistado mente e simula, no registo mais confessional a que um escritor se pode dedicar. Uma entrevista é, formalmente, uma confissão. O bom entrevistador consegue arrancar do entrevistado coisas que este nunca esperou dizer em público. Mas é também verdade que a mentira poderá fazer parte desta dinâmica: e a pose do escritor - penso em concreto, apenas em escritores - facilita a dissimulação e a fuga. Mexia, o escritor que admite dever pouco à imaginação, criou uma personagem que os leitores acreditam ser real, e confunde ainda mais os dois planos quando se confessa. Por isso, podemos relativizar a importância da sua poesia, admirar a independência do seu trabalho crítico, gostar das suas crónicas, mas a verdade da literatura, essa, resiste estoicamente, admiravelmente, no seu blogue. E há muito poucos assim, em pleno aproveitamento das potencialidades que o meio oferece.
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