21/07/09

A República

O bairro onde fiquei, a dois passos da Place de la Repúblique, é uma saudável mistura de várias culturas. Há restaurantes italianos e tascas turcas, lojas de magrebinos e cabeleireiros ao estilo africano, um ou outro português e alguns brasileiros, uma lavandaria chinesa e uma esquina de rua que coincide com a saída do metro, o que quer dizer que funciona como ponto de encontro de toda a gente que por ali passa. No dia em que cheguei, tive de esperar quase uma hora pelo dono da casa onde fiquei alojado; a natureza transitória do lugar é evidente: de passagem, os franceses regressam a casa ao fim de um dia de trabalho, ou começam a noite. Vêem-se homens ainda de fato e adolescentes produzidas para a noite, homens africanos falando alto em frente ao supermercado; um deles assa maçarocas que vende clandestinamente aos outros. O controlo de higiene e qualidade da União Europeia continua a encontrar bolsas de resistência entre as comunidades de imigrantes, um sinal de uma possível resistência. Não encontrei cafés ou restaurantes onde fosse permitido fumar, mas as esplanadas estavam sempre cheias de fumadores, e certamente que o vício, por muito que custe aos legisladores higienistas, não está a caminho da extinção. Talvez esta liberdade absoluta dos estrangeiros seja o que verdadeiramente ameaça uma pátria; certamente que a polícia francesa é prova disso: em cinco dias vi três intervenções dos gendarmes no bairro, uma vez numa mercearia magrebina, outra numa operação stop que terminou com a prisão do condutor do veículo (pareceu-me) e a mais grave: uma rusga num restaurante, não sei por que motivo, que acabou com um sobrolho aberto de um polícia e uma aglomeração de colegas nervosos em socorro do ferido. Pensei nos motins nos bairros da periferia, e, de fora, julgo que o nervosismo dos polícias não será pacificador quando a tensão surge. Ao contrário do que acontece em Portugal, ao minímo desafio os agentes da autoridade parecem reagir em força (mas três vezes podem não servir de regra). Os malefícios da multiculturalidade passarão por aqui?

Sem comentários: