19/07/09

A Liberdade conduzindo o Povo

Em Paris, o lugar que mais senti como meu foi uma livraria inglesa - a Shakespeare & Co, claro -, o que, para além de dizer algo sobre o que é aquela cidade, diz bastante sobre aquilo que sou. Aquela conversa sobre viajar para reencontrarmos aquilo que deixámos, apesar de eu não ter certeza que se possa aplicar a um simples interlúdio turístico, e esquecendo a vulgaridade da ideia, terá alguma razão de ser. Os passos de séculos de um romantismo excessivo pesaram nos meus próprios passos. As expectativas elevadas podem fazer declinar uma sombra sobre o acontecimento - e eu já devia saber isso. O desfile dos lugares familiares - de uma cultura global que já me ofereceu a Mona Lisa antes de a observar, por exemplo - foi-se fazendo na esperança de uma descoberta - como Berlim, que me surpreendeu a cada momento -, e sem essa descoberta o sentido torna-se nebuloso. Mas a verdade é que o espírito do lugar reapareceu - apenas depois de voltar a casa. À organização anglo-saxónica (extremada pelos germânicos) contrapõe-se o desleixo decadente de uma sociedade que parece não saber conciliar os valores da Revolução com as mudanças que foi sofrendo; mais, a História francesa mostra que a traição a esses valores - Igualdade, Fraternidade, Liberdade - foi uma questão de tempo, quando não de forma, guilhotina e Napoleão incluídos, o que apenas acentua o labirinto em que o país se foi embrenhando.
Uma mãe a explicar a duas crianças o significado do quadro "A Liberdade conduzindo o Povo", de Delacroix, é uma tarefa espinhosa. A mulher falava dos tais valores, pondo do lado de cá a República e do lado de lá a Monarquia. O tal paradoxo de um país que deve viver a sua História - Versalhes e a Bastilha destruída - entre a vergonha e o orgulho. Mas não são assim, todas as Nações?

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