Cada um o seu cinema, mais do que uma homenagem ao cinema, é uma dedicatória a Cannes e um elogio da política de autores. A quantidade de filmes de produção europeia que são citados nas curtas é esclarecedora: contam-se 6 ou 7 de Godard, alguns de Truffaut, Dreyer, Fellini, Mastroianni (na belíssima evocação de Theo Angelopoulos) e Lars von Trier (numa narcisística e irónica citação do próprio); sucedem-se frases famosas da história do cinema, e na curta de Angelopoulos Jeanne Moreau limita-se (mais do que isso, eu sei, muito mais do que isso) a repetir (a repetição é sempre diferente) as suas linhas em A Noite, de Antonioni. As sombras projectam-se no rosto dos espectadores e constroem uma breve história do cinema europeu dos últimos quarenta anos - pelo menos aquele que Cannes acarinhou e tornou dogma da cinefilia. Agora que saiu um livro sobre os novos snobs cinéfilos, os novos que preferem Tarantino a Truffaut, Argento a Antonioni, sabe bem ir ver este poema de amor ao acto de ver um filme, ficar maravilhado. Até que o último cinema do mundo seja encerrado e as ruínas conquistem o seu domínio - como se vê na comovente curta de Hou Hsiao-hsien, a indesejada premonição de todos os cineastas e cinéfilos, o seu pior pesadelo.
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