23/01/09

O nome do ministro

Um conhecido ideólogo da blogosfera e do fenómeno comunicacional, cujo nome me abstenho de referir por razões de sobejada fama, não se cansa de encher a boca com uma belíssima expressão - que por sinal não existe na língua portuguesa e é portanto um estrangeirismo - a saber: língua de madeira. Langue de bois, parece, e não é língua de boi, acepipe desprezável da gastronomia nacional. A língua de madeira é o método de cifrar mensagens para que o vulgar cidadão não entenda. O jargão, a gíria dos media e dos políticos, a técnica da finta e do desbaste, do bombardeamento e da confusão, tudo fenómenos que passam despercebidos à esmagadora maioria de nós; um jogo jogado apenas pelos poucos eleitos.

A língua em que este grupo se entende é por vezes quase inteligível; as notícias de jornais, de tão vulgares na sua repetição, são intermitentemente claras. Os estagiários, que se limitam a seguir a cartilha, caem por vezes na asneira, deixando o rabo a espreitar. Por vezes, apanhamos o verdadeiro significado das notícias que nos oferecem. 

Longe de mim querer alongar-me nos meandros da teoria da conspiração; a verdade é uma faca de dois gumes, e qualquer que seja a atitude que tome em relação a ela, arrisco-me a cortar os dedos.

Mas imaginemos: imaginemos uma democracia na qual um antigo governante esteja a ser investigado por suspeita de corrupção; imaginemos que a investigação se torna assunto público, por via de notícia de jornal. Fará algum sentido que não se saiba o nome desse antigo governante? Fará algum sentido que esse antigo governante não se demita imediatamente do cargo público que exerce, de maneira a que a investigação prossiga sem sobressaltos? Fará sentido publicar-se uma fotografia com o nome desse governante no jornal, sem alguma vez ser escrito esse nome em letra de forma? E haverá sentido no facto desse governante vir-se queixar de uma hipotética conspiração em ano de eleições?

O que será que temos em comum com o resto das democracias europeias? Apenas a designação, a semântica vazia de um nome?

(Escrevi isto ontem; já se sabe o nome do ex-ministro. O fogo lento também queima.)

[Sérgio Lavos]

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