16/08/08

A Leonard Cohen afterworld



Há momentos que definem a vida de uma pessoa; outros que são tão importantes que definem uma geração. O facto de em 1993 eu não ter ido ao concerto dos Nirvana em Cascais pode bem ter-me tornado alguém que não seria se tivesse ido. Alguns meses depois, Kurt Cobain tinha aquele infeliz incidente com uma arma de caça, e admito que a falta de seriedade com que encaro estes assuntos é uma consequência grave de ter faltado à missa nesse dia (isso e o facto de não confirmar o dia certo do concerto).

Quando recebi a notícia, reagi com naturalidade, como se fosse a morte de um conhecido com uma doença incurável. O problema é este: eu reagi como se conhecesse intimamente alguém que nunca cheguei sequer a ver.

A minha geração é aquela que se dividiu entre os que gostavam de uma banda cuja melhor música é sobre um miúdo que se suicida num liceu (Jeremy, Pearl Jam) e os que preferiam ouvir hinos indulgentemente violentos à amaldiçoada adolescência (Smells Like Teen Spirit, Nirvana). As tribos minoritárias (alternativos, metaleiros) são um pormenor da história; os primeiros tornaram-se melómanos snobes que passam horas a escutar vinis de pessoal que já morreu há mais duas décadas, e apesar de isso, por si só, não ser necessariamente mau, a essência da música pop nunca poderá passar por esta atitude; e os segundos continuam, na melhor das hipóteses, metaleiros, mas agora com crianças e créditos à habitação à perna: o teenage angst transformou-se em middle class crisis.

Mas a verdade é que os Pearl Jam continuam a ser chatos, e agora são chatos politicamente empenhados (a pior espécie) e os Radiohead tornaram-se a banda preferida de uma geração de entediados em busca de um futuro melhor. E os Nirvana continuam a ser, pasme-se, muito bons; os Doors desta época, para novas vagas de adolescentes rebeldes ouvirem. Muitos anos depois, a bateria perfeita de David Grohl, o baixo pujante de Krist Novoselic e a guitarra enraivecida de Cobain deixaram de induzir a um imberbe exorcismo onanista e tornaram-se o que sempre foram: excelentes.

Assim é o tempo.

[Sérgio Lavos]

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