Bancos vazios no largo.
Essa imagem a que se agarram,
tiraram-na de um mau poema,
mas substituiu a contento a realidade
crivada de zangas, discussões e desenganos.
No abraço em risco,
no arame em que os minutos se enforcam,
perdem-se no curso do que não dizem.
Bancos vazios no largo,
folhas secas, passos rápidos, gente solta.
Como se durante aquele sonho inicial
pudessem ouvir quem vivia fora,
o largo e a ideia de um encontro,
os velhos vivos a caminho, os bancos que os esperam.
A meio de uma rua, não muito longe dali,
a pensão recolhida na margem de outro ano,
o monte de caliça branca crescendo a cada visita,
e a frase repetida pela velha que os atende,
"uma hora, vinte euros", como as putas.
Bancos vazios no largo,
e o combate sereno e distante que os ecoava,
numa memória tão funda que
ao bater na pele ressoava
como se a ponta de um osso a perfurasse,
e ascendesse à superfície, coroando de sangue
a ruína.
O largo, apenas, eles não.
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