Às vezes apetece dizer: dias estranhos, estes. A histeria mediática à volta de uma partícula elementar, o Bosão de Higgs, mostra que este mundo - o nosso, ocidental e tudo - tem saudades do deus morto há quase cento e cinquenta anos. Durante alguns dias, o que é ciência, conhecimento puro, transformou-se numa espécia de papa esotérica com emanações místicas e arroubos teológicos. Sabendo que a God's particle era para se chamar a goddam particle e apenas por conveniência moralista de um editor de uma revista científica surgiu a maldita expressão, percebemos como andamos perdidos. Todos. Menos os cientistas que, fechados nos seus laboratórios procurando a comprovação das suas hipóteses, sabem que o furor do leigo perante a ciência tem a mesma raiz que o extâse místico do seguidor de uma qualquer seita. Prostrados ao altar do desconhecido, procuramos deus na matéria de que somos feitos. Felizmente, este furor é passageiro. E o que realmente interessa, o esforço do cientista, persiste independente do mundo. Até o próximo Bosão reaparecer de forma intermitente nos instrumentos de medição da Natureza, o descanso. Cinco dias, já passaram?
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