16/07/12

Cães

Os livros fazem-nos companhia; mas não são cães. Não precisam de ser levados a passear, não arruinam mobília, não são leais. Não são leais, e ainda bem. Deixam de gostar de quem os lê no momento em que o interesse de quem lê desvanece. Exigem fidelidade enquanto dura o modo amoroso, mas conseguem ser tão cruéis como uma entendiada Bovary. Se os precisamos de levar para férias, pesam muito mas dão menos trabalho do que um cão. E podemos fazer com eles analogias animais, deus nos perdoe. Quando são bons, são muito bons, e se apenas conseguimos amar moderamente um livro é porque não sabemos entregar o coração ao livro que o merece.
A auto-comiseração serve-nos quase tão bem como o fétiche dos livros. Mas estes salvam-nos, nem que seja provisoriamente; a auto-comiseração, não. E escrever sobre o fétiche, ainda menos. 

Sem comentários: