Histórias de brilhantes fracassados que se perderam no caminho para a glória. Escrever sobre esse nada que afecta os membros como se de uma doença insidiosa se tratasse, o cansaço e o sono. A minha vida está cheia de estes sinais que tento ignorar a todo o custo. Encontro na escrita de Sérgio Sant'Anna velhos conhecidos que de vez em quando entendem azucrinar-me sem descanso. Bem, não exageremos. Não me interessa cair no auto-comprazimento masturbador, as festinhas no ego são exclusivo privilégio de quem me quer amar (apesar de tudo). É assim, sem sossego e a todo o custo tentando suportar as toupeiras que por dentro roem as entranhas, agora surge a imagem de longe e é tudo: papel deixado pelos ratos, ruína de papel empilhado sobre ruína de lixo, cheiro nauseabundo espalhando-se em redor, fedor a rato e a urina de rato e ratazana, e eu fugindo da invasão de ratos por toda a casa, surgindo de todo o lado, do soalho, das paredes, dos tachos e da chaminé, por todo o lado, das bocas abertas de espanto perante o ataque das coisas insalubres que se escondem do nosso olhar domado pelo terrível quotidiano, de todo o lado por todo o lado, e isto era um sonho, um sonho apenas, alimentado por uma realidade com demasiadas costuras soltas, cicatrizes mal fechadas, vagas que regressam de onde o sangue nasceu, em todo o seu fulgor, o sabor férreo do esplendoroso sangue na boca. Como conciliar o sono com as toupeiras que se transformam em ratos, o tempo avançando em permanente ameaça, que tal substituir por histórias de brilhantes fracassados esses símbolos tardios de freudianismo de pacotilha, ignorar o drama de faca e alguidar com o qual a vida se pode facilmente confundir? Dormindo, de um lado para o outro do sono resgatando o conforto das ilhas a que podemos aportar na volta da viagem, o sentido descendente em direcção ao medo que com esforço podemos controlar. Esquecendo e rindo, escrevendo e resistindo (sem ideologia nem partido, apenas palavras e pudor).
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