O percurso de um homem pode ser de uma rectidão tão clara que chega a parecer, para quem vê de longe, uma linha curva que quase toca no seu início. O efeito doppler aplica-se também a uma vida. Todos os outros pontos que circulam em redor da linha movem-se em trajectórias irregulares, e por vezes cruzam o caminho do homem bom. Ele sabe de onde vem e, mais importante, para onde se dirige. Nada o pára, e espreita pelo canto do olho a sua sombra constante, mesmo quando o sol não brilha. A moral de um homem é uma questão de geometria. O comprimento de onda em que os seus sentimentos prosperam, apesar de inaudível para os outros indivíduos, é uma ladainha mínima que lhe serve de silencioso mote. O desvio para o vermelho que a linha recta que o homem desenha apresenta é a prova da sua curvatura na dimensão espaço-tempo. Um homem não passa de um corpo celeste. Em eterna rotação e perpétua translação, sempre a ponto de ver o seu movimento cruzado pelo movimento de outro corpo. Espera a qualquer homem um de dois destinos: a destruição ou a fusão, e a segunda hipótese contém em si a primeira. O desaparecimento.
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