Quero eu dizer com isto que Franzen tem alguma coisa a ver com Stephen King? Não. O romance caleidoscópico de Franzen - em que cada capítulo se encaixa no seguinte fazendo avançar a narrativa é resultado de uma técnica que, à superfície, é demasiado previsível, mas que acaba por ser bastante eficaz e quase inventiva. A história da família Berglund contada em Liberdade é a história de um arquétipo; Franzen consegue partir do particular para o universal (se não para o universal, pelo menos para uma tentativa de compreensão do que é o espírito americano, a América dos últimos 50 anos), sem pretensão nem desnecessária pompa. E tem outra qualidade: o mau-gosto é raro, apesar das variadas descrições do acto sexual ensaiadas. Um escritor que não meta os pés pelas mãos em cenas de sexo - e há tantos exemplos de grandes que o fazem - coisa rara que deverá ser evidenciada. Pensando bem, Stephen King não deveria ter sido para aqui chamado, a não ser como exemplo de uma espécie de talento que o canône literarário e o tempo tendem a esquecer: a capacidade de capturar a atenção do leitor desde a primeira página.
- O parágrafo que faltava ao texto sobre o romance de Franzen, acrescentado à versão publicada no Arrastão -
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