Mencionar Bob Dylan e Mad Men no mesmo texto inevitavelmente leva a que pensemos em When the Deal Goes Down, a música do álbum Modern Times e o video com Scarlett Johansson. Realizada por Bennett Miller (que dirigiu também o filme Capote), a curta é uma homenagem à mesma época em que se passa Mad Men (para além de ser um hino a Scarlett, mas isso é outra história) e a perfeita ilustração da história de amor cantada por Dylan. O recurso ao formato Super 8 - e a ajuda de alguns efeitos que pretendem simular a passagem do tempo no filme - recria o espírito de uma década perdida, uma era de optimismo e beleza eterna, um tempo que agora não passa de uma memória vaga. O video de Miller e a série, apesar de retratarem o mesmo período, são distintos: o primeiro apela à nostalgia, situa-se num presente que procura resgatar um passado irrecuperável; a série é linear, alusiva, pretende ser fiel ao que se passou - vive no passado, cria uma realidade autónoma, que não depende da memória. Há uma representação obsessiva dos pequenos pormenores, hábitos, objectos, situações, marcas culturais que foram deixando de fazer sentido: fumar em público, bater em crianças, ir de comboio da cidade ao subúrbio, etc. Mad Men é o retrato de uma época de homens a quem era permitido mais do que agora e de mulheres que sonhavam ter mais do que o conforto de uma vida burguesa: a vida suburbana que também conhecemos dos livros de Richard Yates, John Cheever, Dorothy Parker, dos quadros de Edward Hopper, do cinema de Douglas Sirk (All That Heaven Allows) ou Todd Haynes (Far From Heaven).
O video para a música de Dylan é um sonho de uma época; Mad Men é a possível realidade, o fim de algo - a revolução hippie estava a chegar.
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