Após tantos dias de pousio, isto aqui continua seco, infértil, sem erva que desponte, ruim ou sã, maldita ou vicejante. Todas as aproximações ao ponto certo, as circunferências, os voos picados, ou a planar, perto e lento, ou rápido e nervoso, têm falhado. É uma questão de método. O campo vazio, pronto a receber as sementes que lhe queiram atirar, mas ninguém com a força, a coragem, para o preparar para o seu próximo ciclo. O sol espera, a chuva também, o vento que irá varrer o resto das colheitas do verão passado passeia-se em volta, aguarda e sopra como se o papel destinado não pudesse ir parar a outras mãos, mais sábias ou mais certas do que podem fazer. As nervuras da terra desenham objectos que apenas se vêem do céu, como as gravuras imemoriais que em tempos alguém achou serem marcas de astronautas do outro lado do rio. Mas de cima a baixo, tudo é plano, tudo é térreo, a profundidade não passa de uma ilusão a que os cegos se dedicam empenhadamente, com medo de morrer. Planaltos, colinas, montes, os picos da mais alta cordilheira, alisados por uma régua que dobra o espaço, e mais atrás os olhos curiosos de uma criança e a sua mão febril, voraz, apagando e riscando e desenhando por cima outro universo. Tantos dias de pousio, e nada parece nascer. E, no entanto, move-se. Mas não vemos, nem sentimos. Não sabemos.
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