22/08/12

Borges em Paris

Um livrinho que saiu há algum tempo colige uma série de entrevistas a escritores publicadas na Paris Review. Claro que quando saiu não lhe dei a devida atenção, sobretudo porque. Calhou ser este verão, e não outro, e tenho para mim que pode haver uma razão para isso, mas terei de consultar calendário Maia. Entretanto, Jorge Luis Borges fala com seu entrevistador. Obviamente, Borges, apesar de falar num inglês perfeito e estranho, era quase cego:

"(...) E isto continua a ser para mim uma enorme surpresa porque me lembro de que publiquei um livro -deve ter sido, julgo, em 1932 - e descobri que no final do ano tinham sido vendidos nada mais nada menos do que trinta e sete exemplares.

Era a História Universal da Infâmia?

Não, não. A História da Eternidade. A princípio quis descobrir, um por um, cada comprador do livro para lhes pedir desculpa e também para lhes agradecer o que tinha feito. Há uma explicação para isto. Se pensarmos em trinta e sete pessoas,  essas pessoas são reais, quer dizer, cada uma delas tem o seu próprio rosto, uma família, vive numa determinada rua. Já se vendermos, digamos, dois mil exemplares, é o mesmo que não termos vendido nada, porque dois mil é um número demasiado grande - quer dizer, grande demais para poder ser abarcado pela imaginação. Enquanto trinta e sete pessoas - talvez trinta e sete até já sejam demasiadas, seria talvez melhor serem dezassete, ou mesmo sete - mas mesmo assim trinta e sete pessoas estão ao alcance da nossa imaginação."

E é assim. Depois, os dois senhores - Borges e o entrevistador americano - continuaram a falar durante algum tempo até a entrevista terminar e Borges voltar ao estudo do norueguês antigo.

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