Por exemplo: se tentasse descrever a perfeição do dia que passou - e hoje é um dia diferente, mas é como se ainda fosse o mesmo dia - não seria capaz de o fazer. Por palavras.
(Mas o exagero é superlativo e portanto injusto: não mostra a realidade a que se refere, engrandecendo-a e amesquinhando-a, em simultâneo. Se eu afirmo: não há palavras, apenas assim sucede porque a capacidade para as encontrar é insuficiente. O acontecimento está a montante das palavras que o podem descrever mas também a jusante, se o engenho for bastante. Um poeta encontrará sempre as palavras certas para a beleza.)
E se uma imagem apenas aqui estivesse, a perfeição do dia seria um momento parado, tempo fixo. Um pormenor no quadro, como a mão do anjo de Caravaggio. Mas a mão é importante porque o resto do quadro existe. Evidências que não deixam de ser verdadeiras. Uma palavra é uma imagem, aponta para coisas, nunca ideias. Assim sendo, uma ideia é uma imagem.
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