O nível a que Vasco Pulido Valente desceu hoje, na sua crónica do Público, penso que põe um ponto final decisivo no caso Saramago. Se não começou bem - o anticlericalismo básico do escritor é coisa serôdia, ultrapassada - e continuou ainda pior - com todas as virgens ofendidas clamando por uma suspensão da liberdade de expressão, que costuma ser tão querida por toda a gente -, seria previsível um texto tão orgulhosamente rancoroso e mal-educado como o de VPV. Ao habitual desfile de amargura, maus fígados e snobismo, VPV juntou o insulto e a arrogância de privilegiado que, de resto, está sempre latente em cada alfinetada que dá. Vasco Pulido Valente é, no fundo, o retrato robô possível das elites a que temos direito: um estrangeirado pesporrento que julga que, só porque leu Eça e Ramalho Ortigão, pode criticar quem, por mérito próprio e contra a classe a que VPV pertence, combateu a imobilidade social que durante séculos dominou o país - esta luta é, sem qualquer dúvida, a mais importante herança do 25 de Abril. É contra gente como VPV que a revolução foi feita. Não sei como pode ser classificado o catálogo de imbecilidades por ele alinhavado: o insulto, o paternalismo, a raiva, são coisas que não podem ter desculpa. Prefiro mil Saramagos exaltados e oportunistas a um Vasco Pulido Valente de rei na barriga, importunado com o êxito de alguém que, do seu ponto de vista, é de outra classe social. Certamente que o país bem pode dispensar estas elites.
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