21/04/09

Ballard



O fascínio da criança presa no campo de prisioneiros, durante a Segunda Guerra Mundial, não é muito distinto do desejo de James Ballard quando colocado perante os limites da sua Humanidade. Os dois filmes que adaptaram romances de Ballard, O Império do Sol e Crash (há uma longa-metragem realizada por Solveig Nordlund a partir de um fabuloso conto, Aparelho Voador a Baixa Altitude), evidenciam as semelhanças temáticas da fonte onde bebem e as diferenças que se relacionam com o universo de Spielberg e Cronenberg. A infância como período de descoberta e provação de Spielberg e a idade adulta enquanto tempo de transgressão e derrota; os aviões dos Kamikazes japoneses (a violência espreita) que sobrevoam o miúdo (Christian Bale), prodígio da modernidade, são imagem de uma idade de ouro da tecnologia, quando esta serve o Homem e o deslumbra, produto de uma superior inteligência; por outro lado, as viaturas que espelham o desejo de uma transcendência dos limites do corpo, os carros dançando entre si, chocando, em ambiente urbano, representam o fascínio infantil levado a um extremo hiperrealista. A prótese de Rosanna Arquette, objecto fétiche do olhar extremista de Holly Hunter, é uma hipótese de um ser que ultrapassa os limites do humano; a criança que sonha ver as brilhantes máquinas voadoras (a infância será sempre um sonho, ainda que seja na realidade um duro pesadelo) torna-se um cínico descrente, preso de um desejo que perdeu a sua pureza: a passagem para a idade adulta não será muito mais que isto.

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