Em tempos quis ser arqueólogo, e não me lembrava disso até ter visto Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal.
Em tempos, por volta do sétimo ano, entusiasmava-me com o Paleolítico e o Neolítico e sentado na primeira fila da sala de aula, respondia às questões que a professora colocava (sem telemóvel à vista). Continuei a entusiasmar-me, no oitavo, com um professor comunista e a sua visão distorcida e apaixonante da História; não sabia o que poderia ser a objectividade do historiador, para mim a História era apenas uma narrativa - e esse professor era um excelente contador de histórias. Mas preferia ser arqueólogo a mergulhar nos livros; preferia a terra à literatura, e estaria melhor se tivesse assim continuado. No nono ano, escolhi, a propósito de um trabalho de geografia que focasse um dos países da então CEE, a Grécia, fugindo aos grupos de escolhas banais que se decidiam pela França, Inglaterra ou Espanha. Escolhi a Grécia porque era ali o berço do Ocidente, tinham-me ensinado; lugar de ruínas e memória, concluo agora - altares, templos, histórias que tinha lido nos livros (a Eneida, a Odisseia) e de que havia ainda vestígios. Os monumentos gregos eram a prova de que Ulisses e Eneias existiram - e eu queria pisar o chão que eles tinham pisado, descobrir no meio do pó do tempo relíquias de improváveis existências. A maior felicidade não foi contudo produto dos meus devaneios de arqueólogo; foi quando mais duas colegas escolheram comigo a Grécia. Desconfiei do gosto, e confirmei mais tarde as suspeitas; numa reunião do grupo, uma delas estranhamente não aparece. Sozinho com a outra, descubro que o interesse dela recai noutro objecto que não o livro que, lado a lado, estudávamos. Não preciso de dizer qual a disciplina a que dediquei a minha atenção nesse dia; a geografia bem podia ficar para mais tarde.
Devo muito ao meu gosto pela arqueologia. E devo esse gosto a Indiana Jones, às tardes passadas a ver os dois primeiros filmes da série, os salteadores e o templo perdido. Longe dos livros, chapéu na cabeça e chicote na mão, Karen Allen, de sorriso deslumbrante, pelo beiço, e a inevitável derrota do mal. Como poderia eu não querer ser arqueólogo?
Não sou.
Em tempos, por volta do sétimo ano, entusiasmava-me com o Paleolítico e o Neolítico e sentado na primeira fila da sala de aula, respondia às questões que a professora colocava (sem telemóvel à vista). Continuei a entusiasmar-me, no oitavo, com um professor comunista e a sua visão distorcida e apaixonante da História; não sabia o que poderia ser a objectividade do historiador, para mim a História era apenas uma narrativa - e esse professor era um excelente contador de histórias. Mas preferia ser arqueólogo a mergulhar nos livros; preferia a terra à literatura, e estaria melhor se tivesse assim continuado. No nono ano, escolhi, a propósito de um trabalho de geografia que focasse um dos países da então CEE, a Grécia, fugindo aos grupos de escolhas banais que se decidiam pela França, Inglaterra ou Espanha. Escolhi a Grécia porque era ali o berço do Ocidente, tinham-me ensinado; lugar de ruínas e memória, concluo agora - altares, templos, histórias que tinha lido nos livros (a Eneida, a Odisseia) e de que havia ainda vestígios. Os monumentos gregos eram a prova de que Ulisses e Eneias existiram - e eu queria pisar o chão que eles tinham pisado, descobrir no meio do pó do tempo relíquias de improváveis existências. A maior felicidade não foi contudo produto dos meus devaneios de arqueólogo; foi quando mais duas colegas escolheram comigo a Grécia. Desconfiei do gosto, e confirmei mais tarde as suspeitas; numa reunião do grupo, uma delas estranhamente não aparece. Sozinho com a outra, descubro que o interesse dela recai noutro objecto que não o livro que, lado a lado, estudávamos. Não preciso de dizer qual a disciplina a que dediquei a minha atenção nesse dia; a geografia bem podia ficar para mais tarde.
Devo muito ao meu gosto pela arqueologia. E devo esse gosto a Indiana Jones, às tardes passadas a ver os dois primeiros filmes da série, os salteadores e o templo perdido. Longe dos livros, chapéu na cabeça e chicote na mão, Karen Allen, de sorriso deslumbrante, pelo beiço, e a inevitável derrota do mal. Como poderia eu não querer ser arqueólogo?
Não sou.
[Sérgio Lavos]
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