Uma das notícias do dia vem de África, mas não fala de calor nem de deserto, nem de violência. No Cairo, cento e doze anos depois, nevou. Fotografias circulam pela net, aparecem nos jornais on-line. Uma cidade de sol coberta de um branco sujo, retalhada em imagens naturais ou manipuladas por filtros digitais, uma cidade que por momentos parece ter sido deslocada do seu paralelo para outro muito mais a norte. Há alguns dias, outra notícia dava conta de que tempestades de neve tinham atingido o sul dos EUA, e uma vez mais fotografias tiradas na "sunny California", onde a primavera parece ser eterna, mostravam cidades desabituadas do frio tomadas pelo manto silencioso da neve.
A natureza excepcional deste acontecimento atmosférico parece contradizer o que fomos ouvindo nas últimas décadas. Caminhamos ao contrário do aquecimento global previsto por milhares de cientistas em todo o mundo, e isso apenas pode ser uma coisa boa. Parece que a Natureza dispensa as previsões e os estudos que as suportam, e toma o seu curso habitual lutando contra a mão humana que vem alterando de forma esmagadora o meio ambiente onde calhou vivermos.
Mas pode ser tudo, claro, um fenómeno transitório, irrepetível. Talvez os modelos de comportamento do planeta estejam mesmo correctos e naveguemos em direcção a um futuro em que a Natureza rejeitará a conquista agressiva que caracteriza a passagem do ser humano pelo mundo. Se assim for, celebremos estes momentos de absoluto milagre, ainda por cima o mais provável dos milagres, o que nasce da possibilidade de uma combinação de elementos que, a determinada altura, resultou.