24/10/13

Velhos

O velho diz: “mais um que morre”.
E sem mágoa ou medo o repete,
sabendo que na regular providência
da vida se equilibra o valor
a que cada um tem direito.

Outro velho ao lado diz:
“ não sairemos daqui”.

À terra se submete
a esplêndida alegria
que levou os dois pela vida fora
e os trouxe ali, ao fim de tarde,
sentados no muro dos esquecidos,
quando apenas podem remeter
para uma incerta memória
a seiva e a carne, aquilo que são,
a bifurcação
ou o atalho oculto na sombra da figueira
a pedra solta onde tropeçaram,
a curva que os levou ao caminho errado
ou a voz que os capturou e os trouxe
perdidos durante demasiado tempo,
a caligrafia precisa do sol
sobre o mar
e aquela nuvem atravessando o horizonte,
trazendo a chuva.

Na ruína, já vêem perto o barco que os leva.
E nunca a tarde foi tão demorada, tão silenciosa.
Ainda esperam.

Sem comentários: