A trilogia Jesse/Celine, de Richard Linklater, é por várias razões, mais emotivas do que racionais, mais sentimentais do que cinematográficas, muito cá de casa. Sobre o terceiro tomo de trilogia, este texto do Daniel Curval é dos melhores que já li sobre o filme. Talvez acrescentasse uma referência à evocação que Linklater faz de um outro filme sobre um casal viajando pela crua luz de um país mediterrânico: Viagem a Itália, de Rossellini. Desde a sequência quase inicial - a longa conversa no carro, filmada do mesmo ponto de vista que Rossellini escolhe - até à explicitação clara durante a sequência da conversa entre ruínas, encenação pós-moderna do desencontro em Pompeia entre Ingrid Bergman e George Sanders, Antes da Meia-Noite é marcado por essa melancólica reflexão sobre o amor e a distância que o tempo cava entre os amantes. A metáfora das ruínas marca todo o dia de Jesse e Celine, juntos ainda apesar do amor domesticado, do tempo que esvaziou todo o romantismo dos dois primeiros filmes. Se Antes do Amanhecer era um Casablanca em tempos de inter-rail, Antes do Anoitecer será o remake que não chegou a acontecer do filme de Michael Curtis. Antes da Meia-noite recorda a outra Ingrid Bergman, a que fugiu de Hollywood e viveu uma cinematográfica história de amor com Roberto Rossellini. Mais cinéfilo, mais desencantado, mais realista, o terceiro filme da trilogia é bem capaz de ser o melhor. Mas o romantismo, esse, desapareceu.
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