Flashforward chega ao fim, por não ter cumprido as expectativas de audiência, mas a desilusão em que a série se transformou não apaga algumas boas ideias mal aproveitadas. A ideia das linhas temporais possíveis, paralelas, a partir de um momento, citando explicitamente o jardim dos caminhos que se bifurcam, de Borges, precisava de ter sido desenvolvida por argumentistas com mais liberdade -a série é da CBS - ou talvez mais criatividade. O segredo seria ocultar do espectador o truque. O grande exemplo desta técnica é Twin Peaks (apesar de ter perdido o rumo a partir de certa altura) ou a maior parte dos filmes de David Lynch. O realizador não oferece a chave de leitura ao espectador, criando um efeito de suspensão da descrença que vai mais longe do que o habitual. O enigma é como um fio de Ariadne que leva a lado nenhum, mas que atrai sempre quem não se satisfaz com o comodismo das soluções ficcionais tradicionais. Mais do que realista, esta ficção é naturalista, no sentido em que imita a vida no seu livre-arbítrio - e Flashforward também aflora a questão. Não há solução, não conheceremos o tempo antes do tempo chegar. A sucessão de momentos é um mecanismo de esgotamento de possibilidades, de vias que são abandonadas. O escritor de ficção, por muitos mundos que crie, acaba sempre por se aproximar deste mecanismo. As suas decisões limitam, apagam, criam e destroem, abrem e fecham esse campo de possibilidades. Mas sempre fora da realidade material, o maior assombro.
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