11/09/09

Sinédoque, Nova Iorque (2)

Tanta ambição de Charlie Kaufman acaba por ser submetida ao espartilho da sua inexperiência. E o principal problema do filme é mesmo o facto de Kaufman não ter sabido encontrar um imaginário visual que espelhasse na perfeição o delírio do argumento. A ideia de um teatro onde é encenada uma vida (ou várias), não sendo nova, poderia sempre ser desenvolvida de um modo original (parece-me); mas os caminhos que o argumento segue - são sempre as palavras a escolher as imagens e não o contrário - perdem-se num horizonte confuso e estéril. O cenário gigantesco escolhido pelo encenador para pôr em andamento a representação do tempo da sua existência (a substituição do todo pela parte, a sinédoque do título), comparado por exemplo com aquele montado num filme com algumas parecenças com este, The Truman Show, é de uma eficácia reduzida. Os espelhos que se multiplicam - como num quadro de Magritte - vão perdendo o brilho e a capacidade de reflectir a realidade; à medida que o filme vai avançando - e o tempo vai passando, no ecrã e cá fora - vamos perdendo de vista as personagens. E seria este o objectivo de Kaufman. Mas o esforço intelectual do realizador deixa de parte algum risco, instinto. A loucura é controlada, e não chega a ser dado o salto, o golpe de asa, para que o filme seja grande. Talvez o objectivo de Kaufman seja reproduzir em filme a sensação de opacidade baça que cobre o quotidiano, a passagem dos dias. O problema é que o cinema depende do movimento, da mudança, do drama. Caso contrário, é apenas um longo e culpado bocejo.

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