02/09/09

Jean

Andei de rua em rua, à procura. Tinha decorado os lugares no mapa, mas acabo por nunca decorar realmente nada. No cemitério de Montparnasse, mais um dia de turismo necrológico - Paris parece servir também para isso. Sartre muito bem composto ao lado de Simone, alguns (poucos) papéis com dedicatórias e beijos, Gainsbourg deitado em eterno repouso, campa coberta de flores, cigarros, alguns charros, poemas amarrotados e lábios de batôn desenhados no mármore frio, Gainsbourg destacando-se dos restantes mortos.
Por acaso, deparo no mapa com um nome, primeiro: Paul Belmondo. Paul Belmondo? Não, não, o actor está bem vivo, é o pai, escultor. Certo. E Jean Seberg, a americana exilada, a americana em Paris que tem feito sonhar gerações de cinéfilos. A americana paranóica, descobri numa notícia recente, que acreditava ser perseguida pela CIA. A mulher de Romain Gary, a Joana d'Arc esquecida de Preminger. Apesar de ter trabalhado com Godard apenas em O Acossado, ela é, mais do que Anna Karina, o rosto da Nouvelle Vague. A estudante americana que vende jornais nos Champs-Élysées, naquela rua. Passei pelo número indicado e não a vi, avancei, retrocedi e, absolutamente discreta, lá estava ela. Pedra nua, despojada, sem oferendas ou cartas de amor. Nem flores; algumas pedrinhas apenas sublinhavam um qualquer legado transcendente para quem não soubesse quem foi Jean Seberg.
Morreu a 30 de Agosto de 1979, em Paris.
Mas eu não a encontrei lá.

Sem comentários: