16/04/12

Lisboa, se fosses só três sílabas

"Nunca me apeteceu tão pouco regressar a Lisboa. Já houve épocas em que pensei em ir embora, mas nunca fui, por atavismo, receio, comodismo, mas também por gosto genuíno em viver aqui. Agora, porém, sinto que Lisboa está vista, ou antes, os lisboetas, os comportamentos parecem-me pavlovianos, sem surpresa ou frescura, as amizades foram-se deslassando, a paciência diminui, os constantes «contactos» são agradáveis mas fungíveis, cansei-me de fogachos e decepções, tornei-me mais reticente e recluso, e ainda por cima Lisboa é cada vez menos uma cidade, fecham cinemas, livrarias, cafés, começa a ser indiferente viver aqui ou em qualquer outro sítio, basta uma «ligação» e temos tudo em todo o lado, desta vez nem senti que passei uns dias «fora do mundo», como dantes, a única diferença foi um ambiente mais calmo, mais higiénico, de onde estavam ausentes o darwinismo infrene, o situacionismo degradante, a hostilidade mesquinha. Regressei sem vontade, o que nunca tinha acontecido. Não tenciono ir-me embora, mas pela primeira vez senti que podia ir-me embora, é triste quando a nossa cidade não nos faz falta."
Pedro Mexia.

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