11/05/07

Pré-qualquer coisa

Alguém saberá em que época é que estamos? Já passou por nós a doença do pós-modernismo, ou estaremos ainda lentamente a recuperar das suas consequências? Fará sentido falar de movimentos artísticos ou culturais quando a característica mais determinante para a sua definição deixou de existir com os novos meios de comunicação de que dispomos? O enquadramento de um tempo deixou de ser necessário, porque o tempo relativizou-se de uma forma absoluta. Quando deixámos de sentir debaixo de nós o espaço seguro em que nos apoiávamos, o tempo começou a perder o sentido. As ideias circulam a partir do suporte material em que nascem, são independentes da fatuidade e da perversão de um corpo. Encontramo-nos distantes da tertúlia que precisa de um espaço físico onde se reunir; os modernistas encontravam-se em cafés e discutiam novos conceitos e o modo como o futuro podia ser definido por eles. A arte era um acto colectivista, revolucionário principalmente na sua faceta de comunhão entre indivíduos, tentativa de transformar um conjunto de diferenças em semelhanças, como um rolo compressor destruindo o que havia antes. O espaço agora é virtual, velha canção sem importância, e as ideias são apenas veículo de expressão de egos isolados em ilhas afastadas do seu vizinho mais próximo. Não faz sentido falar em pós-modernismo, porque se perdeu o mínimo sentido de unidade possível para a formação de um corpo de ideias. Não há conjunto, movimento, coesão, lógica. Manifestações avulsas, dispersão, exibicionismo fálico. A cura para o pós-modernismo foi a destruição de qualquer fio condutor para uma cultura. A possível solução é o refúgio em tempos que julgamos terem existido. Em vez de pós-modernidade, pré-qualquer coisa menos isto. Menos isto.

[Sérgio Lavos]

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