
24/11/09
Terceiro Mundo

07/06/08
Um mês de quarentena
A vida cansa. O Verão está quase aí e a selecção Scolari prepara-se para mais um mês de paciência moída, esperas a jogadores, desvario de jornalistas em reportagem, peregrinações de autocarro, lamentações escatológicas de Pacheco Pereira e outras deambulações pelo lado mais negro da alma humana.
Avanço pelo cinismo dentro, claro, admitindo que talvez, reafirmo, talvez, passe este mês colado ao ecrã, de jogo em jogo, adequando horário laboral às melhores partidas e aos jogos da selecção. Eu sei que assim será, mas bem que me poderiam poupar os preliminares e o cigarrinho posterior. Vamos falar claro: não quero telejornais infindáveis sobre a dieta dos jogadores, os treinos dos jogadores, as mulheres dos jogadores, a ausência de vida sexual dos jogadores, as fãs dos jogadores, os velhos da aldeia que vêem a banda passar sem que a banda se digne a parar por eles (mas um microfone, esse, pára por qualquer coisa); aceito um pouco de comentário do Luís Freitas Lobo ou do António Tadeia, mas por favor não convidem o Oliveira do alho no balneário ou o Artur "olho negro" Jorge para dissertar sobre o trabalho do seleccionador ou as vicissitudes do apoio de um país à selecção; transmitam na televisão as grandes partidas de campeonatos de outros tempos, mas evitem os vislumbres dos toques do Ronaldo (apesar de andarem pelo You Tube umas imagens fantásticas de Ronaldinho e outros jogadores da selecção brasileira a curtirem com a bola num treino); podem mostrar entrevistas do Eusébio a falar do Mundial de 66, mas recusem o facilitismo da conversa com o emplastro sobre as decisões tácticas do seleccionador nacional.
Eu sei que posso escolher: mudar de canal, desligar o televisor, sentar-me a ler um livro - ou até voltar a ligar o aparelho e aproveitar para ver na Eurosport as retransmissões de partidas clássicas de antigos campeonatos. Mas, por defeito cultural (a minha portugalidade), queixo-me. Um mês de paz e sossego (relativos), de cerveja na mão e comemorações na rua, alegria para esquecer o cansaço da vida, uma dieta contida de transmissões sem gordura, sem refegos e enchidos para dar cabo do colesterol e da paciência.
A maior conquista de Scolari? Pôr um país inteiro um mês de quarentena. Aposto: se Cristo voltar à Terra em Freixo-de-Espada-à-Cinta, bem no centro da aldeia, ninguém o notará; Portugal prepara-se para se exilar de si próprio.
(Texto publicado originalmente no Corta-Fitas)
[Sérgio Lavos]
04/06/08
Burgueses e burgessos
Mas enfim, de cabeça cheia em consequência do passeio em zigezague, lá cheguei a Belém, bem a tempo de ver aquilo que realmente interessa ao povo português, "brugueses" incluídos: a passagem do autocarro da selecção depois da visita ao Palácio da Presidência; um país a caminho da demência escapista - que se salve quem puder.
[Sérgio Lavos]
02/05/08
Maio de 08
Instantaneidade e simultaneidade. Tudo agora e várias coisas ao mesmo tempo - menos o sexo, claro, que os delírios de Zabriskie Point já foram há quarenta anos.
Por isso, a juventude de agora, que tem tudo menos carreira, casa e uma perspectiva estável de futuro, alegremente é alimentada pela teta dos pais de 75, que nada querem fazer para deixar de ser os salvadores de um país perdido no nevoeiro do fascismo.
O problema, caro Watson, é claramente este: isso tudo de que falam, precariedade, desemprego pós-licenciatura, novas oportunidades falhadas, desânimo, depressão e horror com pipocas à mistura é um eterno sonho de uma outra juventude: a dos nossos pais, que com todo o amor do mundo desejam que bem estar, paz, pão e liberdade sejam, não uma escolha dos seus filhos, mas o leite da teta que caridosamente oferecem. Não há uma única solução viável para acabar com o labirinto da falta de escolha que se apresenta a esta geração porque a vontade desapareceu há muito; os pais desta geração puxam a rédea de cada vez que ela se tenta libertar, em perpétuo movimento reaccionário. O resultado de uma revolução sem sangue é uma juventude sem pinga de sangue nas veias.
Independência ou morte? Morte a longo prazo, como o lume de uma vela a extinguir-se (enquanto se ouvem as palavras de uma rock star cantando o oposto).
[Sérgio Lavos]
28/04/08
Um país de sombra
[Sérgio Lavos]
27/04/08
A herança
O despudor beatífico com que Cavaco assobia para o lado, como se tivesse vindo de um planeta distante para se tornar presidente de todos os portugueses e tivesse deparado com um mundo desconhecido e estranho aos seus hábitos, se não fosse tão repugnante, seria quase digno de um Oscar. E é esta a figura que a direita idolatra.
O problema de Salazar não foi a ditadura de 48 anos; os filhos, legítimos e bastardos, que deixou por aí, são a praga que teremos de suportar sabe-se lá até quando. Para quando a morte, definitiva, do Pai?
[Sérgio Lavos]
25/04/08
25 de Abril

[Sérgio Lavos]
30/03/08
McRúcula

É como entrar numa nave espacial, o renovado Monumental; os imaculados brancos escondem cortinas e segredos, autópsias e vivisecções de gente à antiga. Agora, se quero comer um hambúrguer (ou uma hambúrguer, como se dizia antes) tenho de ir ao McDonald's, que, a dois passos, está às moscas, apesar do lifting das saladinhas e dos menus light. Ou então opto por um belo e gorduroso hambúrguer de soja, humm, que bom, não bastava ser soja, ainda é em forma de hambúrguer, ou então apenas resta uma loja Go Natural, outra Become Light, outra ainda de pizzas feitas à base de trigo não transgénico, tudo acompanhado dos habituais sumos de frutos tropicais ou de batidos de feno, ou essa maravilhosa invenção bastante apreciada por clones de vacas, os shots de relva (é a pura verdade, juro); não sei quantas (poucas) calorias apenas e o health-club fica mais barato e evita-se uma ida à Corporacion Dermoestética.
Enquanto ainda tento digerir um cozido bem regado a vinho da casa, imagino esta gente que julga que viver significa prolongar o sofrimento e a fome e chegar aos 120 anos, presa nos lares para onde os filhos os enviaram, a recordar o passado com lágrimas nos olhos, aquele prato de beterraba cozida naquele restaurante new age onde iam aos trinta, o sabor da água mineral Evian, apuradíssimo, encorpado, a saladinha de couve roxa, rúcula e tomate cherry a acompanhar e o belo remate, digo, sobremesa; um pedacinho de doce de abóbora lado a lado com raspas de casca de laranja (já dizia a minha mãe: "não queres? come raspas!).
Eu sei que sofrerei por todas as vezes que, em vez de comedidamente passar fome, ter escolhido comer de entrada presunto em vez de salmão, emborcar uma feijoada com tinto e ainda ousar comer um doce de ovos no final. Mas até lá, pelo menos alimento-me, não finjo.
E acabei, claro, por sair do Centro Comercial e ir ao McDonald's. Se há alguma mensagem nisto, é esta: este foi um dos textos em que usei mais termos em língua inglesa; a globalização do gosto, surpreendentemente, não vai lá pelo fast-food. O que nos espera é o império da comida light. Ou será que pensavam que a ASAE era só um acidente de percurso?
[Sérgio Lavos]
07/02/08
Mais logo
Temos vivido vários momentos históricos, nos últimos meses. O encerramento das urgências, o crescimento da taxa de desemprego, a normalização do nepotismo, da corrupção, da vigarice pura e dura. O momento mais espectacularmente histórico dos últimos anos foi a ultrapassagem supersónica, por parte dos novos países na União Europeia, da velha caravela a que chamamos Portugal. Os buracos acumulam-se no porão, os ratos roem tudo, a água é mais que muita, mas alegremente continuamos a remar em busca de uma mirífica ilha que ora se chama convergência, ora riqueza nacional, ora progresso e bem-estar das populações - aquelas que vão ter filhos a Espanha, lembram-se? A culpa é dos carpinteiros que construiram o bote? Mas se já lá vão séculos, não seria tempo de comprar um meio de transporte mais moderno?
Somos bons em metáforas (um país de poetas, dizem), mas péssimos em gramática; óptimos a gastar dinheiro (telemóveis, casas, carros, férias), menos bons a tentar ganhá-lo da melhor maneira possível; temos os melhores patrões do mundo - apenas quando está em causa o seu próprio bolso. Dar o melhor pelo país, só se for no Second Life. Somos o mais descrente dos países católicos - pomos o nosso bem-estar sempre à frente do do próximo, pensamos viver cada dia como se não houvesse amanhã nem Deus para nos amparar no fim. Todos sabem diagnosticar a doença - devemos muito à hipocondria - mas ninguém consegue descobrir a cura. O doente (ou a nau, ou a jangada separada da Europa) vai morrendo aos poucos. Quem se apieda dele, e lhe oferece o golpe de misericórdia?
Aguardemos até ao próximo Europeu.
[Sérgio Lavos]
10/11/07
House e o tabaco
Não terei lido, até agora, melhor texto sobre House, M.D. Onde? No Ipsílon, ontem, escrito por Francisco Luís Parreira numa recensão a um desses sub-produtos de merchandising associados a uma série de sucesso. Curiosamente, no mesmo dia em que, no mesmo jornal, Vasco Pulido Valente voltava a investir contra o fascismo sanitário que transverte as sociedades democráticas actuais - outra maneira de caracterizar a campanha anti-tabágica que vai alastrando pelo mundo. Um excerto:
(...)Imagino quem, de facto, quererá este mundo sufocante e asséptico, obcecado com a "saúde"? Gente, como é óbvio, com pouca imaginação. Por mais forte que seja o culto e a idolatria do corpo, a velhice chega. E, com ela, a irrelevância, a obsolescência, a solidão. Esta sociedade de velhos trata muito mal os velhos. A ideia (e a propaganda) de uma adptação contínua é uma grande e cruel mentira. Os velhos são um embaraço. Um peso que se atura, que se arruma num canto, que se mete num "lar". Setenta anos de esforço para durar acabam num limbo à margem da verdadeira vida, quando não acabam no sofrimento e na miséria. O Ocidente está a criar um inferno. Por bondade, claro.
É interessante que, ao mesmo tempo que recusamos a morte e a velhice como processos intrínsecos ao acto de viver, e tornamos a vida um simples adiar da morte, nos entusiasmemos por séries como House, que explicitamente defende valores contrários aos dominantes. Gostamos do politicamente incorrecto apenas em forma de ficção? Procuramos uma fuga ao "real", construindo simulacros de vida para tornar suportável o insuportável. Fugimos.
[Sérgio Lavos]
23/10/07
Nossa Senhora Fátima
Visitar o café do bairro onde vivo a um dia de semana de manhã começa a tornar-se fundamental. A um dia do 13 de Outubro, é uma trip bestial ver o programa da Fátima Lopes e a turba de senhoras domésticas e reformados solitários que ainda não receberam o prometido telemóvel, glorificando-a acima de todas as coisas. Grita-se muito, nestes belos magazines matinais. Grita a Fátima, gritam os assistentes, gritam os convidados, gritam os repórteres de rua a entrevistar o Zé Manel que nos fala da Suíça e manda um beijinho a toda a gente lá em casa, lágrima ao canto do olho, caniche ao colo e bandeira do Glorioso numa mão, que a fé católica pode ser perfeitamente compatível com a crença sobrenatural numa entidade que ultrapassa em importância qualquer santinho, vidente ou virgem: o Benfica. Há razões perfeitamente válidas para a gritaria: as velhinhas deste país agradecem não terem de se levantar para aumentar o volume do aparelho – entre a surdez e a artrite, não é fácil a vida de um fã de Fátima Lopes.
Um senhor, emocionado, relata o último milagre da Senhora:
- Eu não via o meu sobrinho, vá lá, afilhado, há pr'aí trinta, bem, foram vinte, quer-se dizer, dez, ou seis ou sete, e encontrei-o, por acaso, numa missa ontem, à uma da manhã, estava atrás de mim, acredite (pausa para limpar a lágrima, o repórter diz: amigo, tenha calma. Respire fundo, se não não se percebe nada), acredite, Nossa Senhora foi quem fez isto, mando um beijinho para a minha filha de seis meses, e à minha esposa, que é belga, estou muito comovido...
Corte para a Fátima, passagem algures ao Algarve, onde se encontra Marco Paulo, que deve a vida à intervenção de Nossa Senhora:
- Foi graças a ela (mão no peito, rosto sofrido, olhos por detrás dos óculos escuros raiados de lágrimas) que recuperei da minha doença, devo-lhe tudo, daqui de onde estou, agradeço, que ela está aqui, a Nossa Senhora não é de Fátima, é do mundo, é do povo.
Regresso ao estúdio, alguém vai cantar, daqui a pouco publicidade e depois voltamos a Fátima, onde os milagres podem acontecer.
Não vale a pena procurar explicações para o fenómeno de Fátima noutro sítio que não seja o Portugal retrógado de 1917. Que, passados 90 anos, continua tão retrógado como era nessa época. Curiosa é a coincidência da Revolução Comunista ter acontecido na mesma época das aparições. Menos curioso é o facto das aparições terem sido utilizadas como arma política contra a emergência da nova potência comunista, a União Soviética. Imagino que as visões de Lúcia, de um apocalipse liderado pelas hordas de proletários, tenham mais a ver com a hierarquia católica ameaçada pelo ateísmo que o comunismo preconizava (apenas há lugar a um ópio para o povo, o belo ideal revolucionário propagado pelo Querido Líder), do que com algum cogumelo mágico encontrado pelos pastorinhos e pelo povaréu que se juntou ali na Cova da Iria (embora haja relatos de uma erva-do-diabo que crescia à sombra da azinheira milagrosa). Há árvores que choram, quadros de santas que sangram, cadáveres que não se decompõem, mas é difícil atingir o estado de delírio a que se chegou naquele dia. Tão delirante, tão delirante, que nem a fiável objectiva de Joshua Benoliel (por sinal, um ímpio judeu) conseguiu apanhar o milagre do Sol rodando sobre si próprio (há uma música sobre isto em “Piper at the Gates of Dawn”). Fixou-se antes na multidão de devotos, braços abertos em direcção ao céu, rostos crédulos e esfomeados esperando por um milagre que os salvasse da miséria em que viviam.
Salazar e a Igreja Católica encarregaram-se do resto. Fim da história.
Noventa anos depois, o delírio entra pelas casas dentro. E, no fundo, entre uma peregrinação a Fátima e uma visita à catedral da Luz não há muita diferença. Cada um dedica-se ao culto que mais lhe convém. E se possível, acumulando. Garantem-se assim maiores possibilidades de salvação. Amén.
(Texto originalmente publicado no irmão lúcia)
[Sérgio Lavos]
18/09/07
Ecos
O último esforço é de uma ensaísta estimável, Silvina Rodrigues Lopes, na revista Intervalo, como Henrique Fialho dá conhecimento aqui.
Não li o texto da revista, mas pelo que é citado a ensaísta revela mais temeridade do que aqueles que a precederam. Não sei (ou sei, mas enfim), contudo, se um texto de revista consegue atingir a complexidade que se pode alcançar num ensaio de quase 200 páginas, como é o caso da obra de José Gil. Esqueçamos a redundância e estilo de escrita deleuziano de Gil, a circularidade do pensamento, regressando constantemente ao ponto de partida para acrescentar uma ideia mais ao que já foi escrito; o problema é a armadilha retórica que a tese que está subjacente à ideia de não-inscrição levanta - a verdade é que o livro vendeu o que vendeu (e mais, foi efectivamente lido) em consequência de uma leitura complementar à tese da não-inscrição: o problema da inveja. O português (e sim, generalizo) adora ver-se retratado de forma negativa. O livro de José Gil, produzindo um juízo redutor sobre a portugalidade, colheu leitores por todo o lado. A prova mais sólida das teses de José Gil é o facto de o livro ter vendido tanto. O medo de existir não é apenas um excelente slogan. É a prova de um facto, a confirmação de uma ideia de senso comum, de um sentir acerca de nós próprios. Complexificar este senso comum sempre foi a tarefa dos filósofos. A conversa de café transformada em língua escrita é, portanto, o maior mérito de José Gil. E acredito que a obra tenha não só servido de espelho para quem a lê, mas também ajudado a perceber, de uma forma mais profunda, o que podemos fazer para transcender a imagem que o espelho devolve.
Mas convençam-me de que as poucas reacções epidérmicas que se fizeram ouvir contra o livro são mais do que uma prova da tese secundária do ensaio: a inveja como fundamento da portugalidade. Basta ler um pouco do texto de Silvina Rodrigues Lopes para se perceber isso: a insistência na explicitação do destaque dado a José Gil pela revista Nouvel Observateur é um achado em termos de comprovação da tese do filósofo:
«1. a televisão é cada vez mais o lugar do sensacionalismo, e é como tal que recebe um livro que vem de um autor recentemente apresentado numa selecção de «25 grandes pensadores do mundo inteiro» (de e não dos) feita pelo Nouvel Observateur, apresentação que a notícia dada por um jornal português, o JL, converteu, primeiro (5/01/05) em «um dos “25 grandes pensadores do Mundo”» e em seguida (19/01/05) em «José Gil é considerado pelo Nouvel Observateur um dos “25 pensadores mais importantes do mundo inteiro”».
Inveja, disseram? É apenas uma ideia...
[Sérgio Lavos]
27/08/07
O escritor (2)
[Sérgio Lavos]
23/05/07
Touradas
[Sérgio Lavos]
11/05/07
Pré-qualquer coisa
[Sérgio Lavos]
28/03/07
Salazar
Algumas semanas depois da RTP ter comemorado com bolorenta pompa e circunstância o seu aniversário, serviu à massa indiferenciada de espectadores o mais indigesto prato que se pode servir: aquele que já passou há muito do prazo. Não houve apenas um conjunto de circunstâncias a rodear a votação do concurso televisivo; houve um movimento de silenciados do antigo regime, os que finalmente tiveram a oportunidade de expressar em público o que foi durante trinta anos reprimido. A memória que dura o tempo de uma vida não esquece o tempo idílico da infância; para além disso, recupera e reconstrói a realidade rasurando todas as manchas e defeitos que aquela vai ganhando. É por isso natural que muitos dos que admiram Salazar tendam a desvalorizar a sua tendência para a, digamos, opressão totalitária, em favor das suas supostas virtudes salvíficas: o homem que recuperou a economia; o homem que evitou que Portugal fosse à guerra; o homem santo, defensor da fé católica no país, contra a invasão ateia que se vivia no resto do mundo civilizado.
Salazar imaginou um país, no sentido em que criou uma série de imagens que se fixaram no inconsciente colectivo português, reorganizando a consciência de um tempo, tanto presente como futuro. Salazar criou aqueles que agora votaram nele. E, vamos lá ver bem as coisas, já ultrapassámos o complexo de Édipo; no fim de contas, apenas 70000 de nós votaram repetidamente nele.
[Sérgio Lavos]