20/09/06

Evolucionismo

Não sei ao certo qual o interesse que uma questão tão importante como o debate evolucionismo/criacionismo desperta em não-especialistas. Se não desperta, devia fazê-lo, ainda que a maior parte dos textos, quando aprofundam os temas no jargão dos cientistas, se tornem difíceis de acompanhar para o leitor leigo. Há, no entanto, blogues que estão a fazer um esforço de combate que tem de ser louvado, contra o obscurantismo que pretende colocar em pé de igualdade a teoria científica e a treta esotérica. Entre estes destaca-se Vasco Barreto e o seu Cabinet, assim como Ludwig Krippahl no blogue Que Treta!.
A questão é esta: a Ciência anda há 150 anos a aprimorar uma teoria que, quando surgiu, mudou completamente a visão que o Homem tinha do mundo e de si próprio. A teoria não era o resultado de um esforço da Razão, mas sim a soma de anos de investigação e de aplicação do método empírico por parte de Darwin, era a única conclusão possível perante a preponderância de indícios - registos fósseis, observação de campo, etc. - que tinham aparecido. Quatrocentos anos depois da revolução operada por Copérnico, o Homem era uma vez mais recentrado e fixava-se definitivamente no mundo. Ficámos mais sozinhos, mais distantes de Deus, mais seguros do nosso lugar no arco do tempo. Apesar das falhas e das lacunas por preencher, apesar das imperfeições da teoria, do debate entre evolucionistas, do caminho percorrido desde Erasmus Darwin até Stephen Jay Gould e Richard Dawkins. Não há qualquer conflito entre Ciência e Religião. E apenas se pode compreender o esforço de alguns ao enquadrar um Deus nas teorias científicas existentes. Carl Sagan, um crente, descobriu Deus no mais provável dos lugares: onde acaba o Homem, no momento imediatamente anterior ao Big Bang. Deixêmo-lo ficar por lá.

[Sérgio Lavos]

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