08/09/06

Cães

Lavam-se as mãos com os pecados dos outros. Primeiro, a direita; cansada de uma luta titânica travada em favor dessa coisa vaguíssima a que se ousa chamar Civilização Ocidental, descobre uma fraqueza da esquerda que ainda não percebeu que está acabada e atira-se ao osso com um fervor desesperado. Primeiro, uma questão de classificação, semântica (e o artigo de Pacheco Pereira no Público explica bem o conceito): o que é um terrorista? Alguém que rapta civis, trafica droga e obriga crianças a alistarem-se no combate às... vejamos... "políticas anti-sociais, antidemocráticas e belicistas do imperialismo americano"? O que é um democrata? Alguém que rapta civis, estimula o tráfico de droga e fecha os olhos à prática de tortura nas prisões dos aliados? Onde estamos, a que campo pertencemos? Deixamos passar pelo nosso território aviões transportando seres humanos que, na prática, não existem, apátridas sem nome e sem acusação formada, a meio-caminho entre os centros de detenção secretos e o buraco-negro democrático que é Guantánamo, e ao mesmo tempo votamos no parlamento um protesto contra uma organização terrorista que actua a milhares de quilómetros de distância? E a esquerda? Apoia organizações criminosas desculpando-se com os pecados dos seus adversários políticos?
Justiça? Direitos humanos? Liberdade? Ou apenas poder? Ideologia cega, que defende o indefensável e desculpa o imperdoável? Combates vazios e sujos, tão sujos como a lixeira que os cães deixam ao lutar na rua.

[Sérgio Lavos]

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