23/06/06

New Order

Não serei original se disser que os New Order acabaram por ser aquilo que os Joy Division poderiam ter sido acaso tivessem resistido à desolação do Inverno. O álbum Substance prova isso mesmo: do negrume decadente e minimal das primeiras faixas, ainda contaminadas pela doença da melancolia de Ian Curtis, até aos alvores luminosos de True Faith e Bizarre Love Triangle, existe um percurso de purificação rigoroso, desembocando na paz de espírito que apenas o Verão pode trazer. Continuando na metáfora de gosto duvidoso, a banda passa agora pelo seu declínio outonal, programático e nada original, mas ninguém lhes exige nada; o que fizeram em conjunto com Curtis e o modo como se libertaram da canga pesada deixada em herança depois da morte daquele - no filme 24 Hour Party People é tocante a cena em que os sobreviventes Joy Division ensaiam a sua nova incarnação em estúdio, a voz de Bernard Sumner dançando sobre um fio finíssimo que separa a idiossincracia da dissonância, o resto da banda acompanhando como pode o esfoço do vocalista, mas estou a falar apenas de um filme, divago -, dizia, o modo como conseguiram contornar a importância de Curtis já lhes tem garantido um lugar lá no éden onde mora Ian Curtis - lado a lado com os outros mártires da causa musical. A música que se vai poder ouvir aqui nos próximos tempos é uma espécie de acto de pacificação com o passado; e uma das melhores dos anos 90: Regret, do álbum Republic. Chegámos ao Verão.

[SL]

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