30/04/06
Miccoli para Miccoli
Art Brut
29/04/06
O Atlântico e a direita
Como o risco é elevado, todos os dias mergulho num comboio suburbano para não perder de vista as minhas origens, e lembrar que nem todos os privilegiados têm motorista e iacht.
(Abro um parêntesis aqui para agradecer publicamente a Rui Tavares o facto de me ter obrigado a ler todas as semanas as crónicas de Helena Matos no Público. Antes, bastava passar os olhos por duas ou três frases para ficar com uma ideia geral daqueles doces devaneios de mulher às direitas. Agora, dado o ameno convívio com os textos de Rui Tavares, detenho-me mais demoradamente naquilo que a senhora tem a dizer, e que prazer! E que coincidências entre as duas colunas. Hoje, por exemplo: O Rui fala de privilégios, a Helena de carenciados. Um tratado, o evidente contraste. Os pobres e mal-agradecidos que Helena Matos, de forma tocante, cutuca na sua crónica, têm o seu espelho logo ao lado, onde passam a ser privilegiados. As palavras de Rui Tavares, premonitórias, confirmam os palpites de Helena Matos. Desta é que acertaste, José Manuel Fernandes.)
Mas a verdade é que acabei por comprar a revista Atlântico, à custa da publicidade que se espalhou pela blogosfera fora. Tenho uma certa vontade de me debruçar sobre alguns artigos da revista, e sobre o tom geral de uma publicação que mudou há pouco de director e que agora acolhe nas suas páginas meia-blogosfera reaça. Neste número, as excepções são Medeiros Ferreira e Bruno Cardoso Reis (excelente texto). Mas o tempo não abunda. Por isso, limito-me ao fait-divers e ao bitaite de circunstância.
Com alguma curiosidade, avancei logo de chofre para as páginas dedicadas à polémica da providência cautelar da Margarida Rebelo Pinto. Do lado esquerdo, Carla Quevedo faz uma comparação absurda entre o facto de Margarida se copiar de livro para livro e o facto de ter uma vida privada. Não compreendi. A sério. Será necessário explicar quais são os deveres do crítico, e de que modo João Pedro George os cumpre? Adiante, porque o texto ao lado tem muito mais sumo a espremer. Paulo Tunhas, que me dizem ser um professor universitário de reconhecido mérito intelectual - seja lá o que isso for - fala dos dois livros que levou para férias: "Sei Lá" e "Ensaio sobre a Cegueira". Desculpa a Margarida com o Saramago. É assim mesmo. Se não deixa de colocar a prosa da escritora light ao nível zero da literatura, por outro lado aproveita para achincalhar o escritor que fica sempre bem achincalhar, seja por ter recebido o prémio Nobel, seja por pertencer, simplesmente, ao PCP. Isto, apenas. E Tunhas, armado em George da direita, descobre a pólvora. Saramago copia-se! Saramago usa a mesma técnica de Margarida Rebelo Pinto! Fui ver, dado o favor que ele me fez ao deixar pespegadas no artigo as páginas onde tal cópia acontece. E logo num livro que até me parecera dos mais bem conseguidos de Saramago, um autor que, de resto, não me diz nada há muito tempo. Tiro ao lado, falhanço irremediável. A verdade é que existem mesmo dois trechos que se repetem, mas por uma razão de estilo. Bastava ler com atenção aquelas 5-10 páginas para se perceber o alcance do efeito estilístico. "Ensaio Sobre a Cegueira", páginas 284 e 295-296. Confere. Será abuso da minha parte acusá-lo de desonestidade intelectual? Ou de coisa pior? Nem a cuidada súmula da obra de Fernando Gil que encerra a revista salva Tunhas do tropeção. Há uma razão literária, sim. Indiscutível.
Fins-de-semana em casa sem muito para fazer dá nisto. Ócio sem ofício, e peço desculpa pelo trocadilho sem sentido.
Bénard da Costa
28/04/06
Bananas
A pergunta que se impõe
Amizades imperfeitas (fora de série)*
*Para se conhecer a série original, visite-se o blogue Agridoce.
27/04/06
Azar
Mas, adiante. Tendo presente esta desconfiança em relação ao futebol transalpino, quero falar do que se passou ontem, e de como foi injusta a avaliação que a generalidade dos jornalistas fez do jogo. O Milão, surpresa, atacou mais, teve mais posse de bola, circulou bem o esférico, conseguiu, a determinada altura, dar a impressão de que iria dar a volta à eliminatória, e até marcou um golo por Schevchenko - jogador subvalorizado na medida inversamente proporcional à sobrevalorização de Ballack. Costacurta, sobra (como Maldini) da equipa perfeita de Arrigo Sachi, conseguiu secar Eto'o; Ronaldinho, se descontarmos um ou outro momento de assombração na segunda parte (aquele controlo de bola de costas para a baliza e o passe a gazuar a defesa milanesa são apenas um pormenor) pouco se viu (vamos fingir que assim foi). Apenas Iniesta - que ainda não descobriu que pertence a uma linhagem de foras-de-série que passa, inevitavelmente, por Guardiola - e Deco conseguiram sobressair. Como já se tinha visto na eliminatória contra o Benfica, o Barcelona é uma equipa que joga à italiana, funda a sua táctica no pressuposto causal de que o opositor acabará eventualmente por perder a bola. As jogadas mais perigosas surgiram depois de erros do meio-campo do Milão. Aparenta jogar ao ataque, coloca muitos jogadores perto da área adversária, mas defende à maneira de um Liverpool ou de um Chelsea. Porque tem Deco, o médio criativo que mais defende no futebol mundial, e tem avançados que estão sempre disponíveis para o trabalho sujo. Ontem, quando Cafú entrou, Rijkaard não teve vergonha de encostar Eto'o ao lado esquerdo, marcando em cima o brasileiro trintão. Assim se consegue ganhar jogos, principalmente se na frente se tem alguém como Ronaldinho.
(A imagem é do melhor jogador do encontro, Costacurta.)
26/04/06
Respeito
O discurso de Cavaco
A hermenêutica do discurso político – quase sempre dúplice ou múltiplo e todas as vezes furtivo – pode tornar-se um espinho difícil de retirar da pele; e aplico a palavra no seu sentido mais literal: é que dói perceber determinadas coisas. Por exemplo, o discurso do 25 de Abril do nosso excelentíssimo presidente. Atente-se primeiro nas reacções, percorrendo de seguida o caminho contrário até à retórica debitada na Assembleia. Na esquerda, o BE desconfia, o PCP desconfia e recorda algo de que, com toda a certeza, Cavaco Silva não gostaria de lembrar, os Verdes papagueiam a voz do dono, o PS aplaude. Como disse, o PS aplaude?! Claro, "um discurso fundamental, apropriado à data comemorada, o discurso de união que se espera da figura mais importante da nação. Cavaco Silva conseguiu, com este discurso, defraudar completamente as expectativas, tanto da esquerda como da direita. Sócrates gagueja e vacila, afirmando positivamente o pendor social das medidas até agora avançadas pelo governo, desviando a atenção da tendência neo-liberal que até agora tem sido marca da legislatura. Não poderia reagir de outro modo; Cavaco foi eleito com o apoio do pleno da direita e subiu ao poder com responsabilidades acrescidas: contentar quem o elegeu, equilibrando a eventual deriva esquerdista do governo, e ao mesmo tempo concretizar o ambicioso programa intervencionista que muitos apoiantes esperavam dele. Quando ouvimos Marques Mendes concordar com o discurso de Cavaco, quase sentimos a garganta engolir em seco, o sapo atravessado de quem, um dia antes, criticara o governo por estar, de acordo com as últimas notícias da OCDE, a não cumprir o prometido em relação ao esvaziamento do défice e ao crescimento da economia. O que o líder do PSD não pode deixar de fazer é defender o emagrecimento do Estado como forma de combater o défice excessivo, e não porque lhe esteja nos genes, este liberalismo anti-natura; quem pensa a direita quer que assim seja, e julgo não estar errado ao achar que o querem contra o desejo da maior parte dos portugueses, votantes do PSD incluídos. Combater privilégios adquiridos pode ser uma faca de dois gumes; se a promessa se mantiver em abstracto, é positivo, mas quando o português começa a ver o Estado mexer nos direitos adquiridos, aqui d’el rei! Prudência nesta matéria é portanto sempre obrigatória. Marques Mendes, que é esperto, sabe disto.
Voltando atrás, Marques Mendes engole em seco – sem que ninguém repare, note-se -, Sócrates retrocede e mente, afirmando a sua costela esquerdista para além de qualquer dúvida, Manuel Alegre aplaude e engole também um sapo, e Ribeiro e Castro finge que o discurso tem alguma coisa a ver com a democracia-cristã que, supostamente, é a ideologia base do partido que ele julga liderar, e também elogia. Belo. Soares mostra a carranca, e nem os patos do costume conseguem grasnar suficientemente alto para se fazerem ouvir na abertura dos telejornais. E na fonte, o que podemos sentir, o que significam realmente as palavras de Cavaco? Optemos pela hipótese menos plausível: Cavaco é sincero. Cavaco não mente. Cavaco tem mesmo o seu coração à esquerda, e acredita na retórica que lhe escrevem. Contra o seu passado como primeiro-ministro ou provando o seu passado como primeiro-ministro – a adversativa aqui tem razão de ser; os seus apoiantes dizem que Cavaco sempre foi de esquerda. Os detractores discordam. – Cavaco é o travão que pode pôr cobro a qualquer tendência liberal do governo PS. Vicente Jorge Silva, no DN, surpreende-se e afirma mesmo que este é o discurso mais à esquerda, mais certeiro, dos últimos quinze anos. E isso inclui Sampaio e Soares. Cavaco rejubilaria, se acaso lesse jornais.
As outras hipóteses, mais prováveis, são de excluir nesta questão? Cavaco mentiu, não sente aquilo que disse. E por que o faria? Que sentido faria a mentira num presidente que acabou de ser eleito e tem uma ou duas presidências pela frente para provar algum ponto que queira provar? Penso em algo diferente, devaneio um pouco e imagino Aníbal sentado no conforto do seu Palácio de Belém, rodeado de Maria e dos seus adoráveis netos, sorrindo naquele modo muito especial que ele tem de sorrir, provinciano e humilde, de homem que conseguiu subir a pulso na vida. Imagino-o a pensar nos seus pais, lá em Boliqueime, olhando com orgulho para o televisor, ouvindo o filho pródigo discursar, escutando o elogio quase unânime dos seus antigos adversários. Imagino-o a sentir o peito inchar de vaidade ao pensar nos pais achando que, apesar de ter subido alto, não se esqueceu do berço de madeira onde nasceu. Há muito de verdade neste súbito devaneio, mas também há alguma mentira. Mas quem saberá distinguir ao certo qual é qual, na ficção como na política?
25/04/06
25 de Abril
24/04/06
Kings of Convenience
22/04/06
O Padrinho
Pacheco Pereira e a revolução
21/04/06
Amor
Agitprop
Passive-agressive
When I just want to sit here and watch you undress
I can't believe that life's so complex
When I just want to sit here and watch you undress
This is love, this is love
That I'm feeling
This is love, this is love
That I'm feeling
This is love
That I'm feeling
Does it have to be a life full of dread
I wanna chase you round the table, I wanna touch your head
Does it have to be a life full of dread
I wanna chase you round the table, I wanna touch your head
This is love, this is love
That I'm feeling
This is love, this is love
That I'm feeling
This is love
That I'm feeling
I can't believe that the axis turns on suffering
When you taste so good
I can't believe that the axis turns on suffering
When my head burns
Love, love, love
That I'm feeling
This is love, this is love
That I'm feeling
This is love, love, love
That I'm feeling
Even in the summer
Even in the spring
You can never get too much of
A wonderful thing
You're the only story that I never told
You're my dirty little secret, wanna keep you so
You're the only story that never been told
You're my dirty little secret, wanna keep you so
Come on out, come on over, help me forget
Keep the walls from falling as they're tumbling in
Come on out, come on over, help me forget
Keep the walls from falling on me, tumbling in
Keep the walls from falling as they're tumbling in
This is love, this is love
That I'm feeling
This is love, this is love
That I'm feeling
This is love, this is love
That I'm feeling
This is love, love, love
That I'm feeling
P. J. Harvey
20/04/06
Kant para principiantes
O não-acontecimento
19/04/06
Isto não é um post sobre cultura
18/04/06
Enrique Vila-Matas
O dogma do cinema
Espaço sem comparação em Lisboa, a Cinemateca alia restauro, conservação e divulgação da arte cinematográfica (as edições podiam ser modernizadas), contributos fundamentais para a definição de um gosto crítico do cinema.
[Susana Viegas]
17/04/06
Velhos
15/04/06
Tempo desencontrado
Fanfarronice
Eram fanfarrões e a gente sabia-o, mas mesmo assim sentíamo-nos acanhados, ficava a pairar a dúvida de que talvez possuíssem algo que dramaticamente faltava à nossa juventude.
Porque para nós a erecção era um momento frágil, sempre à mercê de qualquer faux pas ou palavra dita a despropósito e que infalivelmente a reduzia a zero. Para eles, não: as suas erecções eram brutamente férreas, as cópulas duravam a noite inteira, os dedos das mãos não chegavam para contar as amantes que tinham, as putas que visitavam, as mulheres casadas que andavam a “preparar”.
***
Estamos num café e ela fala da sua recente visita a Veneza e à Côte d’Azur; da alegria que o Midi sempre lhe causa, da bonomia daquela vida que parece ter o dinheiro e o dolce far niente como principais ingredientes; da sorte que teve ao descobrir lá um pintor genial que dentro em breve irá expor na sua galeria.
Sorrio, bebo lentamente a minha cerveja. Solteira, bem na vida, deve andar perto dos quarenta anos e é atraente porque sabe compensar com charme o que lhe falta de beleza. A nossa conversa chega a um ponto morto e começo a pensar em despedir-me quando ela dispara à queima-roupa: — Este mês já fui para a cama com nove amantes. Brancos, pretos, um malaio, um indiano do Kénia.
Não vejo razão para comentar e ela acrescenta: — E duas mulheres.
Depois conta em detalhe das suas aventuras, das sensações, das técnicas que tem aprendido, de como os asiáticos são mestres no erotismo e capazes de prolongar o prazer horas a fio.
— Horas?
Mais tarde, repensando enquanto espero o eléctrico, vem-me de súbito a recordação longínqua e digo comigo que o mundo mudou, as mulheres mudaram, a fanfarronice tornou-se bissexual.
J. Rentes de Carvalho
Na mouche.
Da verdade
"Todos os Dias, o primeiro romance de Jorge Reis-Sá tem uns dois ou três pecadilhos: um excesso de lugares-comuns, fraca densidade emocional e a falta, menos grave, de poder de sugestão."
Que, supostamente, será uma transcrição do último parágrafo. Compare-se:
"Fora isso, a esta primeira vez de Jorge Reis-Sá apenas se apontará o dedo a dois ou três pecadilhos: um excesso de lugares-comuns, fraca densidade emocional e a falta, menos grave, de poder de sugestão."
Por qualquer obscura razão, saltei do primeiro texto para o último parágrafo, e ainda bem que o fiz. Leio a recensão de fio a pavio, tentando perceber qual o tom da mesma, se o anunciado no texto que enquadra o artigo ou, pelo contrário, domina aquele que o remate do último parágrafo sugere. Nada me surpreende. Fala-se do enredo, das personagens, existe um outro apontamento sobre o estilo ou o contributo da biografia do autor para a escrita do livro (Saint-Beuve, volta que estás perdoado), uma longa enunciação da bibliografia enquanto poeta, antologiador e cronista; o seu trabalho de editor também não é esquecido. Dois pontos a assinalar, se até agora não se percebeu: a vacuidade do artigo, genérico, facilitista, pouco esforçado, marcado pela ausência de um sentido crítico mais incisivo sobre o estilo, as personagens, a construção da narrativa. Pecado menor, de resto, porque comum a quase toda a crítica jornalística. Grave é a discrepância entre o texto escolhido pelo editor do suplemento como apresentação da recensão e o parágrafo que é parafraseado. Sublinho o "apenas", que é estranhamente retirado da primeira versão. Que critério editorial presidiu à decisão tomada? Há histórias mal-contadas que se intuem, relações suspeitas, mesquinhez que se sente à distância. Veja-se quem colabora no suplemento e conheça-se o passado de Jorge Reis-Sá e poder-se-á retirar uma ou duas conclusões. Eu não o farei.
14/04/06
Sexta-feira santa
Pie-tá
Poeta
Poetá
Peta
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Dilacero
Dilacerai
Dilacerei
Dilacerais
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Dilacero
Dilacerai
Dilacerei
Dilacerais
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Cravai
Cravado
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Caravana
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Anglo
Ângela
Ângulo
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fantasiamos
fantasiemos
fantasiámos
fantasmas
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pobres
puderes
puseres
Peres
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Cravai
Cravado
Cravais
Caravana
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faces
facções
fiações
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Antilhas
estolhos
entalhas
entulhas
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editas
edites
editais
editeis
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monoteísmo
minorista
monetarista
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