08/01/07

Ruy Castro

Dos grandes livros que não li em 2006, queria chamar atenção para Rio de Janeiro - Carnaval no Fogo, de Ruy Castro. Poderia escrever que é um fabuloso fresco sobre a "cidade maravilhosa", uma crónica fantástica de um excelente prosador em volta da História e do povo de uma das maiores metrópoles do mundo, e por aí fora. Várias foram as vezes em que folheei o livro, ora lendo as primeiras frases, ora saltando mais para diante, de nome em nome, personalidades brasileiras, amigos do autor, gente anónima. Demorei-me mais nos relatos de índole pessoal; sei que a alma de uma cidade apenas se evidencia quando o autor fala da sua própria vida e os ilustres visitantes que ele convoca se calam. Da série "O Escritor e a Cidade" tinha lido o livro sobre Praga e pareceu-me um pão ázimo, sem humor e demasiado circunscrito a um academismo bacoco, tão prezado pelo auto-proclamado cultor da língua inglesa que é John Banville. O livro de Ruy Castro fugia a esse estilo, mas por intuição ou pura sorte, não o cheguei a ler; para dizer a verdade, o gancho que nos prende aos grandes livros não se soltou das páginas que lia.
Ah, mas dizia que queria falar de um livro que não li, e não é exercício inédito. Em mim, pelo menos. Quantas vezes me canso de um livro antes de iniciar a leitura, derreado pelo excesso de marketing a que as editoras sujeitam os pobres dos autores. Lembro-me agora, à laia de exemplo, de Rosa Montero e a da sua ubiquidade por alturas de Novembro: não houve suplemento literário a que ela não prestasse provas - de originalidade, de excelente conversadora e ainda melhor publicitária. O benfazejo calvário culminou na inefável Ana Sousa Dias, ou coisa que o valha, e está tudo dito. Resultado: recusei (com algum desprezo snobe, admito) pegar num livro que fosse da senhora.
Apenas um exemplo. A verdade é que a sobredose de elogios que a obra de Ruy Castro recebeu teve em mim efeitos secundários de natureza higiénica. Não li e estou a falar. Não irei ler e continuarei a gostar de literatura brasileira. Não vou em patriotismos retintados mas não poderei nunca deixar de agradecer a Ivan Nunes o seu conselho em jeito de confirmação. Há quem se excepcione. A unanimidade pode provocar uma saudável alergia. Não lerei.

[Sérgio Lavos]

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