07/08/25

Regresso

Passo mais tempo dentro
do que fora.
E dentro vai-se acalmando
o tempo, desacelerando
seu passo,
esperando que em si germine
a semente de onde nascem
as minhas mãos e a corda
que as prende ao seu destino.
 
O meu país é pequeno,
tão pequeno como o coração
que o abriga,
tão grande como esse golfo
de sangue onde o dia
aporta, o curto tempo
e a breve praia onde espero
dormir depois do naufrágio.
 
Faço companhia aos peixes
e nesta masmorra 
o tempo passa
tão devagar como o meu desejo dele,
esse mesmo desejo que nos
engole como onda
em mar bravo,
golpe solto,
cumprindo a hora fosca
seu desígnio quando
os barcos de Ulisses
entram na baía 
do regresso.
 
Passo mais tempo
dentro de mim
do que ao largo de mim,
e no céu onde mergulho
há um monstro familiar
puxando-me em direção ao fundo,
na sua boca um rosto
no seu rosto o sangue
desenhando a verdade
que agora liberto:
 
um dia,
qualquer dia,
talvez não encontre
o caminho de volta,
e assim está bem, aceito isso,
as mãos precisam de sombra
para cumprir seu destino.

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