03/10/11

Ulysses

Falando de pretensão: David Lodge sugeriu-me a leitura de Ulysses. Não sou de ouvir vozes, mas acontece - e nesses momentos, tenho de obedecer, qual seguidor de Charles Manson em busca de celebridades ricas. 
Primeira tentativa. Conheço - conheci, em tempos - quem tenha tentado várias vezes sem êxito. Mas eu tenho uma estratégia (que, se tudo correr bem, vou sabotar): ler um determinado número de páginas por dia, mantendo a média ao fim da semana. Fácil. E tem sido como entrar num labirinto. De frases sublimes, de alusões incompreensíveis, de espelhos que reflectem sombras vagas. Curioso é ter-me deparado com poucas palavras que não conheça. Alguns vocábulos irlandeses, é certo, dos quais um ou outro familiares (demasiados filmes com irlandeses e os Dubliners também ajudam). Citações em latim de que se depreende o sentido. Referências clássicas fáceis de detectar por quem não tenha passado metade da vida a brincar com jogos de computador (mas, esperem, eu passei). E aquela imersão na consciência das personagens que deixa qualquer um ligeiramente aturdido; pela destreza na passagem do discurso indirecto simples para o livre e daí para a stream of consciousness, na primeira pessoa. Orgânico parece ser o adjectivo que costuma ser usado, nestas ocasiões. Uma máquina de escrever orgânica. Pode ser.

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