27/11/07

A escala das coisas

Somos sempre melhores, olhados por aqueles que gostam de nós. Somos sempre melhores, à distância, pelas palavras daqueles que gostam de nós. Sempre melhores do que somos. Somos sempre melhores do que aquilo que julgamos ser, ou então somos piores e ninguém nos ama. Os outros esperam sempre mais de nós do que aquilo que temos para dar. Damos sempre menos do que aquilo que os outros merecem receber (ou então não vale a pena ser - é necessário conseguir manter as expectativas dos outros sempre bem nutridas, de maneira a que haja sempre qualquer coisa para dar). Somos sempre piores do que aquilo que achamos que somos. Os outros acham que somos piores do que deveríamos ser - mas preferimos continuar a ser qualquer coisa que é quase mas não é; deixar alguma coisa para o fim. Somos melhores para poucas pessoas na vida - muito poucas; as mesmas pessoas que nos vêem no nosso pior. Apenas conseguimos mostrar o pior de nós às pessoas que amamos. O melhor e o pior, a totalidade do que somos. Mostrar o pior é uma forma de amar. Somos sempre piores do que queríamos ser; suficientemente bons para poucos gostarem de nós. Poucos, a quem serve o melhor e o pior. Até um dia.

[Sérgio Lavos]