26/02/07

Showbizz

Depois da noitada de ontem, um regresso sem cinema ao lugar do crime. Passo os olhos por alguns blogues de cinema e confirmo a ausência do fenómeno. Alguns, não todos. Aqueles que não se envergonham de gostar de cinema americano - e o que é isso - excepcionam-se? Cinema europeu? Dois ou três excelentes filmes por ano, ultrapassados pela dezena ou mais de filmes americanos. A maior parte destes, claro, nem passam pelos Oscares. Tenho ganho mais em ter perdido muito dos premiados dos últimos anos. E este ano, nenhuma surpresa, claro. Um prémio é um prémio, nunca é cinema. Vale o que vale, e acaba por ser penoso ver Scorcese, nos últimos cinco anos a fazer-se ao oscar como o Liedson se faz ao penalty. Olho para o sorriso de velho e detecto a verdade: "preferia ter recebido isto há trinta, vinte anos atrás". Mas a publicidade prescinde do mérito e do bom gosto. Penso em dois ou três filmes dos últimos dez anos; nenhum recebeu o Oscar. "Mulholland Drive"; "Pulp Fiction"; "A Barreira Invisível"; "In The Mood For Love" "Magnolia"... E podia enunciar mais vinte ou trinta melhores do que os que têm recebido o prémio - com a excepção de Clint Eastwood. Um bom exemplo da contigência da Academia em relação ao cinema foi o prémio que Philip Seymour Hoffman recebeu por Capote. Andou anos a fazer grandes papéis, mas teve de produzir o filme certo para ver reconhecida a sua qualidade. E o filme certo foi "Capote", um biopic camp com a dose certa de histrionismo e previsibilidade para ser oscarizavel. Este ano, outro actor inquestionável que precisou de passar pelo mesmo: Forest Whitaker. E serei apenas eu, ou acabam todos por sentir o que Scorcese deve ter sentido? Ou será a vaidade humana assim tão castradora?

(O homem na sombra lá em cima nunca recebeu a estatueta. Credibilidade, foi o que disse?)

[Sérgio Lavos]

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