01/05/06

Dia dos Trabalhadores

Uma das mais maravilhosas dádivas que o capitalismo trouxe ao nosso mundo perfeito foi o consumismo desenfreado. Quem não gosta de sair de casa sem qualquer ideia em mente para gastar o dinheiro suadinho do mês, entrar num refulgente centro comercial e desatar a comprar a inutilidade total em forma de objecto? Roupa, acessórios, discos, livros, gadgets perfeitos de tão desnecessários, infinitas maneiras de satisfazer o egozinho de burguês que cada um de nós alberga dentro de si. Que comovente é ver as grandiosas romarias domingueiras rumo aos mil e um santuários - e a contar - que crescem na medida inversamente proporcional (segunda vez em poucos dias que uso a expressão; chiça!) à retracção da nossa economia, aquela que alegremente vai pulando em direcção aos braços da multidão de países terceiro-mundistas que se acotovelam lá em baixo, no abismo que nos espera, que bonito é observar o povão estourando o crédito e o descrédito da família para gozo de uns quantos empresários esfregando as mãos de contente e ansiando o salto definitivo para paragens mais acolhedoras do que esta. (Brasil, aqui vou eu!). Primeiro de Maio, dia do trabalhador. Repito: 1º de Maio, dia do trabalhador. O trabalhador vivendo na ilusão do capital gastando o que julga ter, e o trabalhador/imigrante/licenciado caixa-de-supermercado fazendo juz ao dia instituído no calendário, laborando, pois então, no dia do trabalhador. Quando, há uns anos atrás, se quis fechar os centros comerciais do país, ia caindo o carmo e a trindade, ai jesus que a economia vai por aí abaixo, é investimento no futuro, grandes superfícies abertas ao fim-de-semana. Ainda bem que se avançou no sentido correcto. Anos depois, passamos por um dos períodos mais prósperos da nossa História recente, o povo anda contente, não protesta, tece loas aos políticos que o governa, o futuro é um risonho sol no horizonte (irra, que imagem pirosa!). A gente até vai aos países mais avançados e vê o comércio fechado ao fim-de-semana e shoppings fora do centro das cidades, mas eles é que estão errados. Qual o sentido de levar os filhos a passear num jardim, ir a uma exposição, fazer uma curta viagem de carro a uma cidade perto, quando há tanto dinheiro no bolso e tanto para comprar faiscando nas montras das multinacionais abertas aos domingos e feriados? Alegres romarias, fatos desportivos reluzentes, ar saudável, meninos correndo e saltando, mulher satisfeita e sogra calada, é desta fibra que somos feitos. Ah, as doces ilusões do capital! E o Mundial que ainda vem tão longe...

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