11/10/11

Ulysses (4) - na companhia de Julian Barnes

Sair do caos da Dublin joyceana para a memória ordenada de Julian Barnes. 
O título do seu mais recente romance, The Sense of an Ending*, contém uma promessa de revelação. Melancólico e banal, poético e coloquial. Depois da leitura de Nada a Temer, apeteceu-me voltar a Barnes. A mulher dele entretanto morreu. Pat Kavanagh, uma das protagonistas de uma querela literária no meio britânico com Martin Amis, de quem era agente. Amis e Barnes eram amigos, e também eles se afastaram depois da zanga.**
A sombra da mulher, cairá sobre a novela? As primeiras trinta páginas parecem ser a típica narrativa de um escritor a entrar na idade crepuscular. Há aqui e ali alguma ironia distanciada - sobretudo na descrição que o narrador faz das tolices de juventude - mas a carga humorística característica de Barnes parece ter-se esvaziado.
As dores da velhice pesam; mais no corpo do que no espírito, como Stephen Dedalus ainda não sabe. Nem Joyce saberia quando estava a escrever o seu Ulysses. A vitalidade transbordante da epopeia dublinesca nada tem a ver coma serenidade desiludida de Barnes. Por isso, vou continuar a ler os dois em paralelo. Até ver.

*Belíssima capa, a da edição inglesa. Hardback Jonathan Cape, elegante e sóbria, com estilo e graça. As editoras portuguesas continuam a não seguir os bons exemplos porquê?

**Será que depois do desaparecimento dela, em 2008, eles restabeleceram a amizade? Estas histórias paralelas dos escritores começam a interessar-me como nunca até agora. As biografias sempre me passaram ao lado, e apenas recordo de ler com bastante proveito a escrita por Nicholas Shakespeare sobre Bruce Chatwin, um tijolo de 1000 páginas que li durante dois, três meses de um verão da década passada - ou talvez da anterior, não sei; mas foi no verão, isso é certo. A vida de Chatwin - um dos meus heróis literários dos vinte anos - foi uma história mais bem contada do que qualquer uma das suas novelas. Apenas os relatos de viagem - Na Patagónia, Canto Nómada - conseguem ir mais longe na efabulação, na invenção.

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