02/11/06

Sindicatos

Rui, talvez o meu post não merecesse uma resposta tão detalhada, e por isso mesmo faço apenas um comentário a um dos pontos do teu texto. Curioso que tenhas encanitado com o termo "assalariado". É que a mim aconteceu o mesmo. Pensei primeiro em "trabalhadores" e depois noutra palavra qualquer de que agora já não me recordo, e acabei por decidir-me pelo mais neutro "assalariados". Auto-censura. Isso mesmo. Censurei o que tinha escrito e acabei por utilizar um termo cuja conotação é claramente negativa para alguns. Insisti na palavra em parte por que acho o passadismo destes termos charmoso - faz-me lembrar tempos que não vivi - em parte porque sei que a direita fica com urticária ao ouvir falar em "proletariado" "luta pelos direitos" e, lá está, "assalariados". E já nem falo no censurado "trabalhadores". Ora, vejamos (assomo desnecessário de retórica): existirá outro termo que se adeque melhor a alguém que trabalha por conta de outrém, recebendo em troca do seu trabalho um salário? Não há. Não sei se é tipicamente marxista. Se calhar é-o porque Marx construiu a sua obra filosófica em função de uma defesa dos assalariados que trabalhavam nas fábricas inglesas e, lá está, nem sempre em condições que se pudesse dizer que fossem ideais do ponto-de-vista da felicidade humana. Em suma, e deixa-me abusar de outra expressão marxista, eram explorados pelo grande capital.
Sabemos que o marxismo-leninismo é uma utopia falida. O cadáver está aí à vista, e quando estrebucha ainda dá para rir um bocado - e falo de Chavéz e outras criaturas afins. Um dos resquícios da nossa revolução abortada são os sindicatos. Padecem do mesmo mal do PCP, porque a ele lhe estão associados (na sua maioria) - não perceberam que "os gloriosos amanhãs que cantam" nunca irão conseguir soltar um pio que seja. Azar. Mas a verdade é que ainda são um dos mecanismos de controle dos desvarios da liberalização económica. Que os há. Os deveres e os direitos de trabalhadores e patrões de que falas não são uma hipótese: eles existem, e são consagrados todos os anos nos acordos entre Governo, sindicatos e confederações de patrões. As três vertentes do tecido produtivo, sempre. Cada um defende os seus interesses, mas isso é natural. Ser anti-sindicalismo é ser contra um dos pilares que sustentam a economia - os trabalhadores (e peço desculpa por utilizar o pior termo possível). Não há produtividade em abstracto, tem de ser um facto concreto - só produzimos se estivermos satisfeitos com as condições de trabalho oferecidas - e negociadas pelos sindicatos. Com todos os defeitos que estas organizações ostentam. E eu até acho o Há Lodo no Cais um grande filme - e ilustrativo quanto baste dos abusos dos sindicatos.

[Sérgio Lavos]

Sem comentários: