05/11/06

Hal Hartley

Hal Hartley, a par com Jim Jarmusch, é a principal referência de uma geração indie de adultos reticentes, pela coolness que lhe está associada. Ter estilo significava frequentar cinema independente americano, ouvir Sonic Youth (que sobreviveram aos 80's) e ler Jack Kerouac - ainda, 40 anos passados. Ser cool era cultivar de modo displicente depressões existenciais fora de tempo, esquecer o Nietzsche da adolescência, ler de fio a pavio a bíblia amarela de Al Berto e frequentar sessões da Cinemateca tentando apanhar ainda o comboio da Nouvelle Vague - tanto tempo depois da partida. Dez anos depois, o gosto é mais seguro, e recordamos histórias antigas resgatadas ao tempo com a ajuda de instrumentos que em tempos abominávamos. Belo brinquedo o Youtube, assim como os packs de DVD's que compactam a infância em imagens que nos tínhamos esquecido de fixar. Dez anos depois, Adrienne Shelley ("Trust" é o seu "A Bout de Souffle") está morta, Martin Donovan passou rápido demais pelo mainstream do cinema americano, e por onde andará Elina Lowensohn - o IMDB dá algumas pistas, mas se desapareceu dos ecrãs desapareceu também das nossas vidas. Da trupe de Hal Hartley, apenas temos notícias de Isabelle Hupert, convidada do seu fabuloso "Amateur". Mas essa não é actriz de um realizador só, foi um acidente na filmografia do realizador. Dez anos depois, valerá ainda a pena exigir a presença de Hal Hartley nas salas portuguesas?

[Sérgio Lavos]

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