16/08/13

A adolescência

A adolescência – ah,
suspira quem se afasta a velocidade de cruzeiro
da idade do ouro.

Adolescência – o buraco negro do existencialista,
passagem para a superfície, em direcção à luz.
Todos os adultos que se perdem
em enredados jogos, florete em punho,
atirando ao primeiro que se mexa,
se for mulher, melhor,
lembram aquele momento
em que o sol no rosto
(o último do dia)
na praia quase vazia,
perdeu de um momento para outro a força,
e do abismo espreitou o demónio da verdade,
arreganhando os dentes,
a verdade apodrecendo logo abaixo da superfície,
o vazio sustentando a pele do mundo,
a membrana fina das ideias.

A velocidade a que uma nave se afasta
do coração da galáxia é um salto rápido no tempo,
menos que um momento.

Na praia sem luz, enquanto a noite
vai cobrindo a sombra deixada pela
vida que partiu ao pôr do sol,
acendem-se fogueiras.
A adolescência é um lugar no passado
que nunca existiu, incerto como o voo de uma ave.
Ela está ali, ouvindo o mar
subindo na memória.

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