13/06/11

Metaficção

Falta uma hora para o jogo - menos alguns minutos.

Se soubesse como é difícil entrar na casa - deixar à porta
o sentido,
a oportunidade de silenciar o andamento das palavras,
o deserto.

Cortejo de despojamento, ternura;
mas não me enganam. Os olhos dos que me observam,
do fundo da sua gramática textual, são o alvo
que procuro quando a minha mão toca no espelho da entrada.
Rosto ao alto, triste e debruçado no abismo entre os dedos, uma sombra
na moldura que enquadra os vestígios da família,
retratos onde ainda vivo.

Regressar aos quartos desabitados, encher de malas por abrir
o vazio que me estende um anel de fogo desde a infância,
ouvir o clique dos interruptores esperando mais do que uma resposta surda -
a luz.

Os que me observam, perdido nas trevas de um poema em ruínas -
Eliot sentado no sofá, Pessoa rodeado de fantasmas,
Al Berto debruçado sobre néons, fiapos de asas - um filme
ardendo no fim da noite.

Quarenta e cinco minutos para o jogo - o poema, morto ou vivo,
retira-se de casa. E eu fico.

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