19/09/07

Sérgio Lavos

O que há num nome?
Caro Lourenço, desfaçam-se os equívocos: não sou, não hei-de ser, nunca serei jogador de futebol na reforma. Nunca joguei no União da Madeira; nem sequer no Varzim ou na Naval. De modo algum cultivei durante épocas a fio um cabelinho de fazer inveja a Futre; a extrema-direita não é lugar que me seja natural. Nunca abusei da rapidez para ultrapassar defesas-esquerdos toscos (com nomes como Abazai ou Vujacic ou coisa que o valha). O amarelo-canário faz-me comichões e não cresci a jogar no Praia da Vieira, num pelado entalado entre pinhais, a dois passos do mar. Não sou nem nunca fui dono de uma marisqueira na marginal. Nunca frequentei a Escola Secundária de Vieira de Leiria, e por isso não cheguei a conhecer um gajo que me diziam ter o mesmo nome do que eu, um cromo metido consigo próprio que, entre jogos de xadrez infindáveis e uma ou outra partida de basquete, perdia a conta às oportunidades desperdiçadas de trocar uma palavra que fosse com uma (qualquer) representante do sexo oposto - salvavam-se os copianços abnegadamente oferecidos à colega de carteira que, entre o desprezo e a pena, lá ia fingindo sorrisos e esgares maliciosos.
Mas que não seja por isso; serei esse tal jogador de futebol de que nunca ouvi falar e que não tem nenhum grau de parentesco, próximo ou afastado, comigo. A ficção bem que pode dispensar o uso da verdade.

[Sérgio Lavos]

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