04/06/07

Arctic Monkeys

Não sei se é pose ou ingenuidade, uma imagem ou a verdade, a ideia que os Arctic Monkeys transmitem nas entrevistas, de que mal conhecem a música pop dos anos 90 para trás. Não sei, mas ambas as hipóteses são interessantes; produzir um som que em tudo se assemelha ao de bandas de há 15 ou 20 anos (The Jam, Wire, Clash) sem disso terem a mínima noção; ou, pelo contrário, conhecerem muito bem os clássicos (se Italo Calvino tivesse escrito um livro sobre a música pop, como descreveria um clássico?) e ainda assim fazerem tábua rasa do conhecimento e proclamar, alto e bom som, que nunca ouviram os... sei lá, Specials ou qualquer outra banda da época. Mas falam em Strokes, falam, e estes não se envergonham das suas raízes longínquas (tardes e tardes e tardes entre Lou Reed e Clash, Television e AC/DC). A lenda que se repete a propósito dos Velvet Underground (das 100 pessoas que os ouviram, 99 começaram uma banda) bem que se pode aplicar à banda nova-iorquina. As cópias abundam, as réplicas ameaçam tomar conta do mundo (pop). Mas os Arctic Monkeys têm muito a seu favor. Quem se lembraria de tocar guitarra como Albert Hammond Jr. a acompanhar letras retiradas do cancioneiro dos The Streets? Ou, já agora, de ter sido contaminado na primeira infância pelo vírus dos Blur, aquele que se começou a propagar a partir dos anos 60, com os Kinks? Há um som Arctic Monkeys? Original, diferente do resto? Ou é apenas propaganda? Que verdade pode haver naquele sotaque de adolescente da working class (nunca um lad alcoolizado, nunca) cantando as pequenas frustrações e misérias do quotidiano na cidade? Serão apenas as guitarras e a sobredose dos... Queens of the Stone Age, imagine-se?
Não interessa. Têm feeling. E isso é tudo.

(O texto longo é só para falar da musiquinha que está ali a tocar ao lado. Exagero estilístico, é bom de ver.)


[Sérgio Lavos]

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